Livro #1 de 12 | As vastas emoções de Rubem Fonseca
Por Márcia Lira em
Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos, de Rubem Fonseca, é o livro mais cinematográfico que eu já li. Se fosse um filme, seria um de David Lynch. Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2001), pra ser mais específica. Porque é uma história onírica em que o espectador o tempo todo se pergunta se o que acontece é delírio ou a realidade dos personagens. No livro, esse limiar parece um pouco mais definido. Eu disse “parece”.
>> Assista ao trailler do filme e entenda o que eu digo.
O próprio título é parte da definição de sonho de um médico e psicólogo britânico chamado Havelock Ellis: “um mundo arcaico de vastas emoções e pensamentos imperfeitos”. Inclusive foi essa parte do livro que me atraiu, pois considero uma das mais lindas combinações titulescas da língua portuguesa. E os sonhos ganham mesmo um papel tão importante na trama quanto os acontecimentos fora deles, na vida do personagem principal.
Se tem uma coisa que o leitor vai encontrar neste livro é ritmo, pois a história se desenrola num thriller de investigação onde há duas grandes tramas na vida do mesmo protagonista. Se fosse escrito hoje, o autor poderia facilmente considerar colocar a história em três volumes. Mas foi em 1988.
Sobre as tramas, a primeira é um roubo de diamantes, com direito a assassinatos e perseguições. A outra é a busca por um manuscrito misterioso e inédito do escritor russo Bábel para servir de roteiro material para o próximo filme dele. Sim, o personagem principal é um cineasta. Mais um motivo pra colocar o livro junto da sétima arte.
>> Por sinal, não me lembro nome do personagem principal, talvez propositadamente não exista.
Como conta o Sérgio Augusto no posfácio: “Rubem Fonseca se diz incapaz de conceber um livro em termos de ideias e palavras. Tudo o que escreve aparece primeiro sob a forma de imagens, imagens de ação”. A sensação que eu tive é que Rubem Fonseca teve um momento “Dane-se! Vou fazer exatamente o que eu quiser aqui”.
E aí misturou histórias, criou personagens estranhos e colocou em muitas aventuras, e desfilou um sem fim de referências artísticas: Edgar Allan Poe, Hitchcock, Ray Bradbury – pra quem leu, uma das personagens se chama Mildred, Tchekhov, Fellini são só algumas. Coloque mais comentários sobre política e trechos da história do mundo, e ao menos uma especificidade de cada cidade onde o protagonista passa: Rio de Janeiro, Paris, Berlim (viajantes, deliciem-se!). Ficou um samba do criolo doido muito gostoso de ler.
E o cineasta protagonista tem tudo para ser um alter ego do escritor: “Um retrato sublimado do autor: inteligente, culto, meio pernóstico, cosmopolita, cético, irreverente. E, consoante à tradição noir, um garanhão”, bem define o Sérgio Augusto. Definitivamente o personagem se dá bem com as mulheres Ruth (ex-mulher), Liliana, Dália, Veronika, etc. A impressão que dá é que Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos é o filme que Rubem Fonseca não dirigiu, onde ele mesmo é o protagonista.
E me deu vontade de continuar os investimentos pela obra do autor mineiro. Provavelmente, o próximo será o livro Agosto, que está aqui esperando na estante. 🙂
Nota: 3/5
Editora: Agir, 2010
Páginas: 318
ISBN: 9788522010929
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