Granada-Barcelona-Paris, das andanças e dos livros
Por Márcia Lira em
Quando eu entrei no avião, uma das poucas coisas consistentes do roteiro que eu tinha preparado era a intenção de visitar um lugar “Menos um na estante” que fosse, entre Espanha e França. Porque quando se faz uma viagem dos sonhos dessa, por tão pouco tempo, com a aspiração de absorver um continente inteiro e decidindo em conjunto com mais três pessoas, é difícil ter certeza de qualquer coisa.
Depois eu descobri que teria isso mesmo sem planejar, porque é assim que eu senti a relação com os livros por aquelas bandas: um movimento natural. A minha primeira parada foi em Granada, uma das cidades mais lindas da Espanha. Bom, em tese eu não teria como dizer isso, pois só a conheci e espiei Barcelona. Só que é uma cidade tão acolhedora e encantadora que eu mentiria por ela.
E aí que, entre um bar e outro, experimentando “tapas” (petiscos que acompanham as rodadas de bebidas), terminamos num dos lugares preferidos da minha amiga que mora lá, o Poë. Um pub charmoso onde as pessoas se apertam entre um gole e outro. E, não – eu perguntei! -, não é uma homenagem ao Edgar Allan, é o nome de família do dono.
Apesar disso e do pouco espaço, tinha lá no cantinho uma estante abarrotada de livros e o cartaz: “Books for sale: € 1”. Imagina, você toma uma e leva um livro pra ler no dia seguinte pelo equivalente a… R$ 2,50? Coisa linda demais.
Passei um dia em Barcelona, pouco para dizer qualquer coisa, mas o que observei, como nas outras cidades, é que a galera na rua lê muito. E aí você pensa num passeio por aqui, e num passeio por lá, onde gente com livro aberto faz parte da paisagem. Ficava observando como sempre alguém saca aquele pocket book da bolsa e começa a ler. Às vezes mesmo numa posição desconfortável, em pé, no metrô em movimento, com uma mão se segurando e a outra nas páginas.
No caminho pra algum ponto turístico, entrei numa livraria, e o que mais me chamou atenção foram os quadrinhos. Cada um mais legal que o outro, com um senso de humor peculiar. Digamos, uma ironia fina. Gastei uns euros com um livro bem colorido chamado ¿Qué será de ti?, dos poloneses Aleksandra y Daniel Mizielinski, uma das melhores coisas que veio na bagagem, e por isso mesmo valerá um post.
A algumas horas de voo de distância, a terceira e última parada em Paris. Ah, Paris. Por mais que a gente veja fotos, assista filmes e ouça falar, é deslumbrante conhecer a cidade. Ficar abestalhada com a paisagem nos vários pontos das margens do rio Sena, extasiada aos pés da Torre Eiffel, achar todas as ruas lindas à noite com a iluminação indireta. Tudo ao som daquele jeito de falar o charmoso francês de volume constante, sem altos e baixos, ou ao som da música dos artistas de rua. Só me sentia dentro de um filme.
Lá, demos de cara com uma espécie de loja-sebo cultural, onde estavam expostas, em mesas na calçada, pelo menos algumas centenas de livros usados, quase de graça: € 0,20 (cerca de R$ 0,50). Era difícil alguém passar na rua sem dar uma paradinha.
Como eu não tinha muito o que fazer com livros em francês, preferi um disco de jazz que caiu da prateleira na hora em que eu passei. Assim, como se fosse o meu destino em Paris. hehehe. É uma coletânea do Saint-Germain-des-Prés, o bairro marcado por ter sediado o início do existencialismo.
Foi no último dia de passeios que decifrei a malha metroviária pra ver como chegaria na Catedral de Notre Dame, pertinho da Shakespeare & Co, para matar dois coelhos. Comecei a fazer conexões em estações feiosas, mas ao chegar ao destino me surpreendi com um lugar mais lindo do que os lindos recantos da cidade, cheia de cafés e restaurantes, com muita gente (e turistas!) passeando e a catedral imensa e exuberante abençoando tudo. Dá até pra esquecer um pouco o frio.
É onde ficam as famosas barraquinhas de livros à beira do Sena, cujo expediente estava chegando ao fim. Então depois de algumas fotos da igreja, me dirigi direto para a livraria, fundada em 1951, que é um dos lugares mais aconchegantes que eu já pude estar. Um mimo. Na frente, abaixo das luzinhas “natalinas”, uns livros usados servem de vitrine, pois ao lado da livraria tem um sebo.
Devem encher o saco de tanto turista, porque só é permitido tirar foto no primeiro andar. Do chão ao teto, os livros ocupam todas as paredes, até a parte de cima dos portais. Os espacinhos são preenchidos com frases de Shakespeare, lógico, ou outrem, com coisas e ilustrações engraçadinhas. A parte de cima é a mais legal, porque tem poltrona, cama, cadeiras, e até um piano onde um turista improvisou umas notas, deixando minha visita ainda mais legal. O ambiente para perder as horas com um livro na mão.
A maioria dos livros são em inglês, e eu trouxe um de turista, da seção livros com história em Paris, de George Orwell, editado pela Penguin: Down and Out in Paris and London. Parece bem bom. E, como tinha dito na fan page, trouxe uma ecobag descolada com uma pintura da livraria para fazer uma promoção de fim de ano, breve no blog mais perto de vocês. Além da minha, claro. Enfim, a Shakespeare & Co (facebook e twitter). é da wishlist das livrarias-pra-ter-ao-lado-de-casa.
Escrevi um bocado, né?
Post dedicado às companheiras de viagem e de vida, Keilha, Bel e Cal. E fotos nossas.
3 comentários
[…] muito nas informações que as obras exibem dos lugares onde suas histórias acontecem. Até a última viagem que fiz: em Paris tudo o que eu queria era ler algum livro que acontecesse na cidade. Encontrei altos títulos […]