Quanto ler para concluir que é hora de desistir de um livro?
Por Márcia Lira em
Cavucando um dos meus blogs preferidos sobre leitura e literatura, dei de cara com um raciocício que me chamou atenção: se você começar a ler um livro e aquilo não lhe fisgar, deixe de lado. Talvez não seja a hora de lê-lo.
Então comecei a prestar mais atenção nesse feeling. Iniciei um título indicado e emprestado por uma amiga há um bocado de meses – pois, para mim, livros sugeridos, dados ou emprestados por pessoas queridas, gente que me conhece de verdade, furam a fila na cara dura.
Mas A Menina que Roubava Livros, de Markus Zusak, mesmo com a capa encantadora (a imagem abaixo foi inspirada nela, daqui) e o título lúdico, ainda não tinha me arrebatado na 25ª página.
Daí, joguei no Twitter/Facebook a pergunta: quanto a gente deve ler de um livro para considerar que aquele não é o momento de lê-lo? Questão que motivou toda uma discussão inesperada no Facebook.
Carlos respondeu que bastava meia orelha, enquanto Hercília mandou logo “fechar, guardar e abrir outro”.
Ana acredita que é “até sentir que travou”, e Bruno ficou indignado (risos): “Peraê! Eu comprei esse, emprestei pra Deus e o mundo, e nunca li porque não para na minha mão… Sério que é esse tédio?!”.
Mari disse logo que achou o livro muito água com açúcar, e nem terminou de ler. Carol admitiu o ar adocicado, mas contou que amou a obra a ponto de ter chorado bastante.
Keila, a amiga-querida-dona-do-livro, claro, defendeu a indicação: disse que leu em três tempos e que eu estava com preconceito por ser um best seller. Não posso negar.
E olhe que eu curto muitas besteiras, principalmente na TV e no cinema, mas eu evito correr o risco de me dedicar a uma publicação ruim. Pelo menos enquanto estou recriando o hábito de ler mais, nessa correria moderna que induz ao contrário.
Então o best seller já começa tendo que me provar que é mais do que isso.
Porém, isso não acontece só com campeões de venda.
É comum empacar em obras consagradas, clássicos, livros de escritores idolatrados: mas ninguém fica espalhando que não engatou em Joyce, Guimarães Rosa, Flaubert.
Não acredito que a qualidade da obra ou do leitor seja o fator principal, tem que existir uma sintonia entre os dois. Às vezes, apenas não é o momento certo. E, às vezes, o momento certo nunca chega.
Lembro que antes de amar Clarice Lispector, eu fiz umas três tentativas mal-sucedidas na adolescência. Foi quando a coletânea de contos A Bela e a Fera me destravou para a forma peculiar de ordenar as palavras da ucraniana.
Também demorei muito lendo A Insustentável Leveza do Ser, me achando a mais lerda das leitoras vivas. Até que uma amiga sugeriu que poderia ser o meu tempo de digestão da narrativa, que era forte e dizia muito ao meu momento de vida. Tinha sentido.
Ainda no Facebook, Renata e Carol também deram exemplos:
No blog que inspirou este post, Alessandro Martins cita trecho de uma palestra de Jorge Luís Borges sobre o assunto: “Eu diria que a literatura é também uma forma da alegria. Se lemos alguma coisa com dificuldade, o autor fracassou. Por isso considero que um escritor como Joyce fracassou no essencial, porque a sua obra exige um esforço. Um livro não deve requerer um esforço, a felicidade não deve exigir esforço.”
E vocês, que experiência tiveram?
Bom, eu acho que A Menina que Roubava Livros está demorando a dizer alguma coisa. Keila me sugeriu que eu tentasse ler até a página 60 – se eu não gostar, então eu trate de devolver o que a ela pertence (risos). Então, é o que farei.
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 11 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
Eu começei a ler "Lolita" e logo me deu vontade de parar, mas insisti e logo depois vi que foi uma das melhores coisas que já fiz.. rs Acabei devorando o livro em uma semana e me apaixonando pela história, apesar de ser meio chocantes e por vezes muito doentia.
Bom, vou pensar duas vezes se paro da próxima vez então.
Compro meus livros na maioria das vezes… Nas minhas leituras eu acabo "forçando a barra" para provar a ruindade do livro, isso é um péssimo habito pois, poderia gastar meu tempo com outros livros e a lista de leitura iria aumentar consideravelmente…. Estou passando por isso com o 2° livro que leio do John Green Teorema… e ta complicado seguir a leitura 🙁
Acho que forçar um pouco a barra, vale. Mas forçar muito é perda de tempo. Dou mais valor a parar e tentar voltar depois. Tenta. 🙂
Para mim criou-se ma regra: eu me perco em Clarice até a página 70. Depois fico é com pena que tá terminando. Foi assim desde o primeiro.