Quando booktrailers valem a pena
Por Márcia Lira em
Um belo dia eu me deparei com um trailer de livro, e achei algo muito esquisito. Como assim, trailer? Livro ganha primeiro capítulo à disposição, entrevista com o autor, frases de efeito, não trailers que pertencem a outra mídia. Depois eu descobri que eu conheci o formato um pouco atrasada, ele já era tendência.
Hoje é muito comum uma editora divulgar uma obra com um trailer. Para se ter ideia tem até um prêmio para o formato, o Moby Awards. A sensação de estranhamento, no entanto, ainda me acompanha. Demorei a decidir se gostava ou não dessa ideia, até dar uma boa pesquisada e tirar algumas conclusões.
Uma das mais fortes características de um livro é abrir espaços na narrativa para que a gente complemente com a nossa imaginação. Então se o autor escreve: “a mulher entrou na casa”, nós pegamos essas cinco palavrinhas e somamos a elas nossas referências, criando identificação. Isso me leva a ter uma ideia de “a mulher entrou na casa” bem diferente da que você absorve da mesma frase. Agora imagine expressões mais complexas e multiplique as possibilidades.
Então a meu ver, o principal problema de um booktrailer é quando ele encerra esses espaços abertos dos livros. Como? Num vídeo de três minutos, dá cara, voz e jeito aos personagens, aos lugares, aos grandes momentos da obra. Depois você vai ler com aquilo na cabeça, e a percepção será mais limitada, totalmente diferente do que você teria sem ter assistido. Um exemplo é esse de Sangue Errante, de James Ellroy. Parece trailer de filme. Tem também uns formatos piores que só fazem você perder tempo, pois eles colocam no vídeo o que poderia muito bem estar escrito, o famoso videopoint (vídeo de powerpoint). Conheci um desses numa, pasmen!, lista de melhores booktrailers de um blog. The Iron King, de Julie Kagawa, tem um trailer que é um colagem cafona de frases e imagens. Só consigo pensar que o livro é péssimo. No mesmo estilo, fizeram pra Angel Time, da Anne Rice. Please, economizem meu tempo.
O Sérgio, do Todo Prosa, blog que adoro, acredita que o booktrailer é um conceito ridículo. Pelos exemplos que ele pegou e pelos que coloquei até agora, eu concordaria se não tivesse me deparado com umas ótimas amostras.
O Triste Fim de Policarmo Quaresma, de Lima Barreto, ganhou uma animação simpática, que apesar de dar cara e voz aos personagens, vira um captador de atenção das crianças para a obra. O objetivo está no final: leia na biblioteca da sua escola.
Agora os formatos que me parecem ideais, e eles justificam a existência dos trailers de livros, é quando o vídeo vira uma obra à parte. Ou seja, tem uma certa autonomia em relação ao livro. Não apenas conta uns pedaços e joga umas frases, mas faz uma mini releitura assumindo que utiliza um formato diferente e explorando isso para atiçar a curiosidade do leitor.
É o que acontece no caso do Word as an Image, de Ji Lee (acima), e do I am in the air right now, de Kathryn Regina. Esse eu vi no blog do Tiago Dória, num post antigo mas ainda interessante sobre o formato. O que você assiste abaixo ganhou o Book Trailer Awards.
O de De Onde Vêm as Boas Ideias, de Steven Johnson é outro ótimo exemplo. Aí você me pergunta: só bons casos estrangeiros? Então eu lhe mostro o trailer de O Filho da Mãe, de Bernardo Carvalho, que mistura animação bem simples com depoimentos do autor. Ficou interessante.
Sabe um que me levou, não a comprar, mas pelo menos a tirar o livro da estante na hora? O booktrailer de A mulher de vermelho e branco, do Contardo Calligaris (leia resenha do livro aqui). Com cenas que não mostram rostos, deixa a curiosidade à flor da pele.
Outro simples, porém eficiente é um que achei googlando mesmo, o trailer de Assassinos S/A, uma coletânea de contos policiais. Nunca tinha ouvido falar no livro, mas o vídeo, apesar de bem simples mesclando frases e fotos dos autores, se sai bem investindo numa música sombria.
E você, simpatiza com os booktrailers? Quais você curte?
3 comentários

AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 14 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
Verdade, está em amadurecimento, e eu acho que pode sair coisas muito legais ainda daí.
Eu também ainda não me acostumei com os booktrailers. Talvez eu tenha tido azar e só visto uns meio powerpoint, então fujo desse tipo de divulgação. Mas gostei muito desse de "A mulher de vermelho e branco". Desperta o interesse sem limitar a imaginação e sem ser apenas um apanhado de frases e imagens ruins.
bjo
O livro é muito bom, recomendo. 😉
Nossa!
Eu nunca soube de 'booktrailers', conheci agora e aqui rs
Concordo com você, os primeiros, pelo amor né?! Tudo bem que não tenho som, mas a qualidade deixa a desejar 🙂 E também limita a nossa imaginação.
Mas os últimos são legais, principalmente o da mulher de vermelho, que instiga, e você cria a personagem, não te limita tanto assim!
TALVEZ, pegue mais para as pessoas que ficam muito tempo na internet, que leiam em tablets, será?! Não sei se eu gostaria de 'ver' um livro antes de ler, para isso já existem os filmes hahahahaha =p
beijãozão*
Sobre os ruins, note que eu preferi nem colocá-los indexados, só os links. Acho que ainda vão aperfeiçoar muito o formato.
Oi Márcia! Bom, eu realmente nunca pensei muito sobre a "qualidade" dos booktraillers, e confesso que inclusive não assisti muitos. Acho interessante o que vc falou, da possibilidade de tirar o papel da imaginação do processo de leitura… mas sempre acho essa mistura de mídias e formatos tão interessante! talvez esse tipo de paroximação seja muito relevante para leitores mais jovens… e talvez seja um formato ainda em fase de amadurecimento!