Para se deixar seduzir pela menina má
Por Márcia Lira em
O mérito de estar no título da obra de Mario Vargas Llosa não é à toa. A menina má é fascinante. Quando a gente termina a última página do livro, percebe que desenvolveu por ela um sentimento tão doentio quanto o que nutre Ricardito, o peruano narrador da história. Uma mistura de “Ufa, me livrei!” com “E agora, o que é que eu faço?”.
Em Travessuras da menina má (Alfaguara, R$ 47,90), o trunfo na manga de Vargas Llosa é a super construção do personagem. Digo isso porque é difícil pensar alguma situação, algum problema que não tenha acontecido ao longo da vida dessa moça. E ainda assim ela não se torna inverossímil, é até possível imaginar que existe por aí mulher tão intensa, sequelada e sedutora.
“Falava sem deixar de sorrir, movendo a boca com uma brejeirice mais refinada que antes. Contemplando seus lábios marcados e sensuais, arrulhado pela música de sua voz, tive um desejo enorme de beijá-la. Senti um aperto no coração.”
O livro conta a vida de Ricardito, um peruano cuja grande ambição era morar em Paris. O problema é que na adolescência, ele se apaixona por uma chilenita caliente, de ombros soltos e olhos dissimulados sedutores. A verdade não é a especialidade da garota, que desaparece da vida dele. Afinal, as ambições dela são muito maiores, um empecilho para uma história de amor como a gente vê nos filmes.
“E, com sua personalidade gélida, não hesitava em me procurar, convencida de que não havia dor, humilhação, que ela, com seu poder infinito sobre os meus sentimentos, não fosse capaz de apagar em dois minutos de conversa.”
Em vários momentos, em situações diversas, em lugares inusitados, eles se separam e se reencontram, vivendo tórridos dias ou horas de romance. Ou só de sexo, sempre diferente, do tipo gato-e-rato, do tipo rindo, e em meio às mais exdrúxulas situações. Ele, sempre um apaixonado imbecil e obssessivo, a menina má sempre misteriosa e distante. E apesar das situações psicológicas complexas, o livro poderia até ser monotemático, mas está muito longe disso.
Há a política, com as descrições dos bastidores das revoluções do Peru e os movimentos de esquerda da França. Há as amizades intrigantes de Ricardito e há o turismo literário, onde o guia é Vargas Llosa apresentando peculiaridades e recantos de cidades da Europa, como Paris e Londres, sem falar em Tóquio. De forma que a sensação é a de acompanhar uma espécie de saga das relações humanas e da vida política na época.
Particularmente, tudo de Paris me saltou aos olhos, pois quando comecei a ler a obra, estava de viagem marcada para lá. E na volta, foi especial reconhecer ali alguns lugares que pude visitar ou apenas ver. Como o Café Les Deux Magots, super tradicional, famoso porque era frequentando por Hemingway, é onde acontecem alguns encontros entre a menina má e Ricardito.
Fotos de MuddyRavine.
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 14 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
Tive essa mesma sensação de encantamento com Paris na época em que li o livro. Quando acabei, fiquei louca atrás de qualquer outra história que se passasse na cidade. 🙂
não tenho muito o que dizer, apenas PERFEITO! =)