Como não se frustrar com metas literárias (a minha receita)
Por Márcia Lira em
Descobri uma coisa maravilhosa na minha vida literária em 2018: essa tal liberdade. É que sempre racionalizei muito o processo literário, estabelecendo números e objetivos. E o que ganhei foi me tornar uma expert em não cumprir as minhas próprias metas literárias.
O que sempre acontece? Sobram metas e sobram frustrações. Se você também sente esse gostinho amargo de não ter lido tudo o que queria a cada fim de ano, vem cá conversar comigo.
Aí em 2018 eu me perguntei: porque lidar com um problema que eu mesma crio? (Essa pergunta tem feito parte do meu dia a dia, para várias áreas da vida. Recomendo)
O meu principal erro
É claro que para pensar assim pouco antes eu precisei chegar a um extremo. Divulguei em praça pública, na verdade aqui nesse blog, o que chamei de Meta literária 2017: o meu plano de leituras com foco e propósito.
A ideia era ler 50% de autores brasileiros, 40% de escritoras mulheres, 80% de livros que tenho, 1 livro sobre livros, 1 biografia, 1 HQ, 1 livro de jornalismo literário, 4 livros que já iniciei, 1 de fora de toda a lista. Que cansaço, onde eu estava com a cabeça?
Isso me travou de uma maneira, que eu poderia jurar que foi o ano em que eu menos li na minha vida.
Então eu refleti um bocado, inclusive com base nos meus estudos sobre produtividade, e percebi uma coisa fundamental. É fato que o meu humor e o meu foco de interesse mudam ao longo das semanas e, dependendo das fases, até ao longo dos dias (alô, TPM).
Mudanças de humor e vibe
Essas mudanças influenciam totalmente a minha relação com a leitura, que é algo muito, muito subjetivo. O meu principal erro foi não considerar isso.
Então tem horas que quero ler para me prender a uma história interessante, tem momentos que é por escapismo, uma leitura que me faça sorrir cairia bem. Tem horas que quero inspiração profissional ou para a vida. Em alguns momentos dá vontade de aprender algo que eu não escolhi aprender (fugindo da vibe Google).
Daí o feeling mudou e você abre o mesmo livro do dia anterior, que acontece? Empaca. E pior ainda ter que ler um livro em setembro que eu não estou com vontade porque sete meses atrás eu estabeleci essa regra. Quantas coisas podem acontecer e transformar sua vida em sete meses?
O exercício de me deixar mais livre
Tanto em relação aos tipos de leitura, quanto em relação à leitura daquele mês, e principalmente me permiti ler vários livros ao mesmo tempo para atender às minhas flutuações de interesse e humor.
Com isso, li mais do que nos anos anteriores? Bem pouco mais, porque foi um ano muito intenso de trabalho e ajustes de vida. Sofri muito menos? Sim, e isso é o mais importante.
Tudo por simplesmente estar me permitindo ler o que tenho vontade na hora. Hoje me sinto acolhida pela leitura que escolho fazer, tenho sido uma leitora mais feliz. Hoje eu posso comprar um livro na livraria e chegar em casa e começar a leitura. Uma coisa tão simples e maravilhosa que eu não me permitia. Tem sido lindo.
Não abandonei as metas literárias
Acredito que elas são importantes como parâmetro, para deixar o hábito de ler sempre naquele lugar de ponto de atenção, porque ler é ir na contramão.
Tenho as minhas metas, mas tão guardadas só comigo por enquanto, sem pressão. É um processo ainda em experimentação, mas tem sido uma descoberta muito legal.
E você, como está a sua relação com a leitura e com metas literárias neste começo de ano?
Deixo três dicas que foram importantes pra mim sobre o que pensar na hora de estabelecer as regras do seu relacionamento sério com os livros:
1. Por que ter meta literária?
Primeira coisa é pensar o que leva você a estipular metas literárias. Por que é legal? Por que fulana fez? Você pode simplesmente ler sem metas e tudo bem.
No meu caso, gosto de metas e não quero deixar de fazer porque é um recurso que me mantém na atenção para leitura. Como sei que posso me perder entre a internet e as séries, vira um meio de medir tempo passando x livros lidos. Só que essa relação precisa ser saudável.
2. A sua meta não precisa ser prestação de contas
Esqueça todos à sua volta e pense: quantos livros você leu ano passado? Este é o seu ponto de partida. Não importa se são 3 ou se são 50 livros, é a sua, e somente sua, relação com a leitura que conta.
3. A arte da menor meta possível
Aprendi com o Quanto Menos, Melhor (leia sobre o livro) que devemos lidar com metas com cautela. Primeiro pense o que poderia/deveria fazer, e depois diminua.
Por exemplo, você está sem se exercitar e decide começar uma atividade física. O que você poderia/deveria fazer? Caminhar por 1 hora 3x por semana? Então coloque a meta de caminhar 2x por semana por 20min. E ao passar das semanas você aumenta os objetivos.
São as metas mínimas que vão fazer você pensar “não tem como eu não cumprir isso” e aí começar a ver facilidade em se comprometer.
Então se ano passado você leu 3 livros, se comprometa a ler 5 livros esse ano. Nesse contexto, ler 10 vai ser uma felicidade só.
Quero finalizar esse post deixando pra vocês assistirem esse vídeo maravilhoso do psicólogo Luiz Alberto Hanns no Youtube: Não busque uma vida equilibrada.
Entre frases como “meta de vida equilibrada é praticamente impossível e está deixando as pessoas angustiadas e com sensação de incompetência”, faz a gente pensar que a vida não acontece de forma estável e linear e por isso não adianta tanta cobrança. Dica de Thais Yoshioka.
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 11 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
Eu também tinha uma meta de leitura que muitas vezes me deixava tão sufocada que perdia a vontade de ler. Esse ano decidi que vou ler o que me der vontade, quando der… E já estou no terceiro livro!! o/
Oi Marcitcha!
Que bom que alguém falou sobre isso… e que maravilhoso ver você falando sobre, justamente porque você lê, você compartilha, publica, você fala e escreve sobre livros!
Eu sempre quis ler 1 livro por mês, mas nem sempre é possível, como você citou: ” É fato que o meu humor e o meu foco de interesse mudam ao longo das semanas e, dependendo das fases, até ao longo dos dias (alô, TPM).” Tem dias que só quero ligar a tv e assistir uma comédia pra não ter que pensar, e ler a´té pode ajudar nisso, mas você precisa estar ali, imaginar cenários, personagens, e nem sempre está afim de ter essa concentração e esse momento.
Eu, agora, estou rumando pra mais da metade do livro “Ponto de Impacto” que comecei ano passado, desse mês não passa!
Tenho muitos livros, que quero ler ainda, mas preciso voltar ao hábito de pelo menos 15 minutos diários de leitura. E é isso que estou fazendo!
Obrigada 😀
beijãozão*
Adorei e me identifiquei com as dicas. Sigo a meta de 1 livro por mês como uma meta mínima, acabo lendo bem mais do que isso, o que me estimula. Tento ler prioritariamente os livros que já tenho em casa e fazer escolhas por autores diversos, mulheres, literatura LGBT, ou seja, tento diversificar a cada escolha de leitura. Registrar as leituras tem sido fundamental na motivação para seguir ampliando mais o repertório. Adorei o post!! Beijão
Adorei esse texto porque compartilha com a gente o seu processo de estabelecer as metas e também repensá-las. Muito interessante essa relação de associar as leituras aos estados de humor e interesses, usando os livros como parceiros para passar por esses momentos. Eu que não tenho muita habilidade com metas, estou me sentindo incentivada a iniciar com flexibilidade os desejos de leitura do ano. Adorei! Esse post é como entrar num sebo ou livraria: desperta na hora vontade de ler mais.