Literatura brasileira, os silêncios e as exclusões
Por Márcia Lira em
Um estudo sobre a literatura brasileira divulgado ontem é literalmente um tapa na cara da sociedade, e sem luva de pelica. Regina Dalcastagnè é jornalista, doutora em teoria da literatura, professora e dedicou 15 anos à pesquisa que mostra o quanto ainda somos preconceituosos, machistas, patriarcalistas e como ainda estamos muito aquém do que acreditamos quando o assunto é aceitar as diferenças.
A pesquisadora se debruçou sobre “um total de 258 obras, correspondente à soma dos romances brasileiros do período entre 1990 e 2004, publicados pelas editoras Companhia das Letras, Record e Rocco e identificados pelo grupo de pesquisa” (de artigo sobre a pesquisa). A pesquisa foi chamada “Eu quero escrever um livro sobre literatura brasileira”. Só para dar um exemplo, ela mostra que o personagem médio do romance brasileiro é um homem branco, heterossexual, intelectualizado, sem deficiências físicas ou doenças crônicas, membro da classe média e morador de grande centro urbano.
Com tantas informações interessantes, representadas no infográfico abaixo originalmente publicado no Ponto Eletrônico, há de se esperar um debate também no campo literário sobre o valor das diferenças e a importância de dar voz à nossa multiplicidade também nessa área cultural. E não acho que é o caso de apontar um ou outro autor porque ele segue o padrão, afinal a liberdade criativa merece respeito. A meu ver é o caso de coletivamente pensar e repensar como o nosso discurso de multiplicidade fica na superfície, a ponto de não ser refletido na nossa produção cultural.
Ah, o título do blog foi inspirado no nome de um livro da Regina pelo qual me interessei bastante.
Via Paulo.
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 14 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
É exatamente isso, Marcita! Não imagino que seja correto pensarmos em direcionamentos criativos na produção literária, muito menos imagino que os autores deliberadamente criam suas obras com intenções machistas, racistas ou heteronormativas. O fato é que estamos inseridos nesse contexto preconceituoso de forma coletiva e a força das nossas referências se reflete, neste caso, de forma tão objetiva, na nossa produção cultural. A reflexão sobre o assunto é ótema! O seu texto, mais uma vez, uma delííícia de ler! =*
Posso estar errada, mas acho que se as obras dos últimos 8 ou 9 anos tivessem sido consideradas, estes números teriam uma boa "melhoria".
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Muito legal este infográfico, parabéns.
Interessante essa pesquisa, concordo com você, dá um belo debate.
Muito interessante e importante esse post!