E se houver uma cópia sua no mundo? O Homem Duplicado, de Saramago
Por Márcia Lira em
Imagina você vendo um filme aí na Netflix até que aparece uma pessoa na tela exatamente igual a você? A voz, o rosto, altura, trejeitos, uma cópia sua andando pelo mundo.
O que você faria?
Entraria em contato?
E quando tivesse no telefone (ou no whatsapp?), diria o quê?
Afinal, quem é a versão certa de si mesmo?
O que ele estará fazendo neste mesmo momento usando o corpo igual ao seu?
É possível perceber isso e continuar a vida normalmente?
A sua individualidade no mundo ficariam em questão. Esses são alguns dos dilemas presentes em O Homem Duplicado, do Saramago.
Afinal, não estamos mesmo sempre precisando buscar nossa identidade num mundo tão global e pipocado de informações? Lembrar que somos únicos, nos mostrar únicos, buscar o que nos faz únicos.
Faz uns dois anos que li esse livro, mas ele bateu tão forte que só agora consigo vir falar um pouco dele. Eu me esforcei, pois não são esses livros que nos remexem por dentro os que mais vale compartilhar?
Foi o meu segundo livro dele e o suficiente para endossar o coro: que escritor maravilhoso!
É impressionante como Saramago consegue criar uma situação absurda, sem explicar porque ela aconteceu, e ao abordar os impasses que ela provoca, levar a gente a associar com coisas da nossa vida (e se perguntar se não é a vida que é mesmo absurda?).
E aqui eu me apoio também na história de Ensaio sobre a Cegueira, que ainda quero ler, mas conheço a trama pelo filme. É o escritor de ficção científica com mais humanidade e psicologia que já li.
Então conhecemos Tertuliano Máximo Afonso, o professor de história que vê sua rotina entediante abalada (alô, O Estrangeiro!) ao se ver duplicado.
Com essa descoberta, a vida dele se transforma lentamente. Pensar sobre o que fazer com a questão, seus passos para desvendar esse absurdo, transformam seus dias e suas relações.
Tertuliano conta com a ajuda do Senso Comum, uma espécie de amigo imaginário, veja a ironia.
Os contatos com a mãe, os encontros com a espécie de namorada Maria da Paz passam a ser cheios de segredos. Como esperar que um ente querido reaja ao fato de existir dois de você?
Saramago tem um jeito fluido porém profundo de escrever, os diálogos são no meio de vírgulas no texto corrido. Entre um acontecimento e outro contatos, o narrador de repente aparece fazendo o uma observação no presente.
E ainda tem final apoteótico
Com essa maestria em que cada palavra se encontra no lugar onde deveria, o escritor português poderia se conter em passear pelas questões do inusitado da situação e com isso já ter um livro forte.
Parêntesis para: o meu livro ficou todo grifado, cada frase um tebei! Como algumas que deixo aqui no post.
Mas não, meus amigos, minhas amigas, o final desse livro não é para amadores.
A gente acha que não vai acontecer nada, mas tem reviravolta sim e até hoje eu não sei bem o que pensar desse desfecho. Com certeza entrou pra lista dos livros que quero reler.
Por enquanto, vou relembrar a história com o filme baseado nele (assista ao trailer legendado aqui), estrelado por Jake Gyllenhaal, o ator de filmes esquisitos, e dirigido por de Denis Villeneuve, diretor de um filme que amei chamado Os Suspeitos.
Agora quer saber? Pelo trailer dá pra ver que o filme tem um ar modernoso, não vai estragar vendo o filme antes.
Enfim, eu recomendo fortemente a leitura de O Homem Duplicado, de José Saramago. Uma obra-prima. Um livro que eu não queria ter passado na vida sem ler. ?
Leia também sobre a minha primeira experiência com Saramago, O Conto da Ilha Desconhecida.
—
O Homem Duplicado
José Saramago
(veja na Amazon: https://amzn.to/4acRMwb)
Editora: Companhia das Letras (é mantida a ortografia vigente em Portugal)
Páginas: 316
ISBN: 978-85-359-0304-1
Nota: 5/5
Um livro para: se envolver em uma história absurda, intrigante e humana.
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 11 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
[…] novo me encantar com um Saramago, que deve ser Todos os Nomes. // Ainda não […]
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