O meu painho foi embora
Por Márcia Lira em
O meu painho foi embora.
Quarta-feira, 3 de agosto de 2016, às 8h10. O fechamento de um processo doloroso, desde o momento em que tivemos o diagnóstico de cirrose e câncer de fígado.
Desde a consciência da doença até a partida foram quase 4 meses que vivemos junto com ele, eu, minha mãe, e meus quatro irmãos. Quase 4 meses de pequenas despedidas e de lutas perdidas. De viver o presente acima de tudo. Da frustração de não poder fazer nada.
Até então eu tinha perdido parentes muito, muito queridos. A minha avó, a minha tia, o meu primo. Mas eu nunca tinha perdido um pedaço.
Perder o meu pai era o maior medo que eu tinha na vida. E a vida às vezes é engraçadinha que só, né? Prega essas peças na gente.
Sim, é o ciclo natural. Mas infelizmente a gente não é educado para a finitude.
Não sei se você já passou por uma perda desse nível. Posso lhe dizer que é uma experiência transformadora à base de sofrimento. Eu não sou mais a mesma Márcia. E embora seja bem contrária à forma como aconteceu, suspeito que sou uma pessoa mais humana e mais forte.
Painho é um dos responsáveis pelo meu amor pelos livros, e portanto pela existência desse blog.
Eu comecei a ler pequenininha devorando gibis da Turma da Mônica que ele comprava pra mim. E lia depois. Até há poucas semanas antes dele “descansar”, bem debilitado, os gibis era uma das poucas coisas que divertiam ele.
A vida toda eu o vi lendo com frequência de uma forma gostosa e natural e isso me inspira. Era legal de vez em quando trocar uma ideia com ele sobre algum livro.
Painho foi a quase todos os troca-troca Menos1naestante. Chegava geralmente sozinho e em alguns casos passou menos de meia hora por lá. Mas ele ia. Pra mostrar que compartilhava comigo daquilo que me fazia feliz realizar.
A gratidão de ter tido sr. Nilson como pai por quase 35 anos é muito grande. Deu tempo de ele ensinar um bocado sobre a vida. Inclusive a encarar a realidade de frente, mas também com positividade e leveza.
E a saudade, essa eu vou ter que me entender com ela. A gente vai ter. Te amo, pai.
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Quero aproveitar pra indicar duas instituições do Recife que conheci nesse processo: a clínica Onkos, onde a gente encontrou médicos mais humanos. E o ICT (Instituto Cristina Tavares de Apoio ao Adulto com Câncer), que sempre está precisando de voluntários e doações.
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 14 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
Que sorte a minha que tu tá na minha vida. <3
Minha amiga Marcia (não sei se posso te chamar assim…rs ^_^) mas eu me emocionei com seu texto e me compadeço de sua dor. Sei que esta perda não é fácil.
E só quero dizer que se depender de mim (como resenhista…rsrs) esse seu site/blog não morrerá. Somos os sortudos de termos pessoas (pais e/ou mães) tão boas e iluminadas capazes de nos transmitirem as paixões deles para nossa vida.
E compartilhar todo esse mundo das letras/livros e fantasia para fazer de nossa vida mais empolgante, só quem realmente entende o poder da leitura e ama ler sabe a importância disso.
Força e um enorme abraço! :*
Muito obrigada pelas palavras e pela força, Wagner. Só conseguindo responder agora. E vamos juntos na nossa empreitada pelas letras e pelos livros. 😉
Mae, tu com esse jeitinho Manso (tem muito mais coisa que Tio Nilson te ensinou, ne?) é muito forte. A perda de tio Nilson é muito grande. O seu texto é muito comovente. Como tinha que ser.
A grandeza e generosidade dele está em tu. E isso não se perde. <3
Madre, só tô respondendo agora, mas ajudou tanto essas tuas palavras (e ainda conforta). E miss you already. Beijo
Flor,
Sinto muito pela sua perda! imagino a dor, a falta, a mutilação!
Que Deus te proteja e conforte esse coraçãozinho que nos presenteia com tanta sensibilidade em suas postagens nesse mundo virtual! ??
Brigada pela força que chegou por aqui com essas palavras, viu? Retomando e respondendo agora, mas foi bem importante pra mim. Um beijo!
Márcia… Compartilho contigo essa dor. Perdi Mainha e nunca mais fui a mesma! A boa notícia é que um dia a dor física da saudade é sublimada e se transforma num sentimento indescritível de bem querer e contentamento. Também foi ela que me ensinou a gostar de ler e foi por ela que me tornei professora. Eu e vc sabemos que demos orgulho a eles e isso é um alívio!!! Conte com minhas orações e quando quiser conversar me procure!!! Mande um beijo pra deus irmãos e sua mãe!!! Bjs.
Emilia, muito obrigada pela mensagem, viu? É bom ouvir que esses sentimentos difíceis se transformam. Desejo muito bem a você. Beijio!
Marcinha
hehehe :*
Marcinha seu pai, meu pai e Murilo foram
grandes homens e pai de familia dignos de
honra
e homenagens!
Foram mesmo, Dudu. Brigada! beijo
Márcia, o que em comum entre nós duas é que aprendi a gostar de ler com meu pai, e que perdê-lo é também o meu maior medo! Que Deus conforte o seu coração, e tenho certeza que os anjos o receberam de braços abertos! Beijo!
Melhores pais são esses, né? Que nos botam no caminho dessa trilha maravilhosa. A gente vai aprendendo que aproveitar o hoje é o que a gente tem. Obrigada pela força e muitos e muitos bons momentos pra você com seu pai. Um beijo
E tudo na vida tem seu tempo… e nunca estaremos preparados para as perdas. Ficamos com as lembranças dos momentos vividos, que nem o tempo nos tira. Espero que Deus dê a paz e o consolo, tão necessários a você e sua família neste momento. Fique em paz!
Obrigada, querida. Amém!
Márcia já fazia um tempinho que não passava por aqui, e eis que hoje numa visita me deparo com a sua perda. Eu sei bem o que você está passando junto com seus irmãos e familiares, eu perdi o meu "painho" no último dia 27 de abril (dia de meu aniversário) e de uma forma brusca (ele infartou dormindo), e hoje brilha no céu. Temos algo em comum além do grande amor por quem nos educou, a minha paixão por livros também foi herdada do meu "painho", ele nos incentiva sempre para o bom hábito da leitura. E assim como você, desde a minha tenra infância sempre via meu pai com um livro, fosse sentado no poltrona, fosse deitado na rede na varanda, ele era um apaixonado pela literatura, foi ele quem me apresentou ao mundo de Monteiro Lobato, Balzac, Oscar Wilde, e tantos outros grandes escritores. A saudade será eterna, então digo para você que tenha força e fé de que DEUS nos dá suporte para esses momentos tão dolorosos, mas jamais deixe a tristeza chegar, guarde os bons momentos juntos. Um forte abração carioca e que DEUS a conforte. Fique em paz!
Sinto muito mesmo, espero que vocês encontrem conforto e tenham sempre boas lembranças do seu pai. Fico feliz em saber que ele foi amado e amou muito vocês. Abraços e força!
que a sorte a nossa ele ter te incentivado a gostar de ler. =***