Apenas um número limitado de vezes
Por Márcia Lira em
“Porque não sabemos quando vamos morrer, nós começamos a pensar na vida como um bem inesgotável. No entanto, tudo acontece apenas um número limitado de vezes…’, soa a voz de velho do Paul Bowles, no final do filme que considero ainda mais belo do que o romance original. ‘Quantas vezes mais você vai se lembrar de uma certa tarde da sua infância, uma tarde que faz tão profundamente parte do seu ser, que você não pode sequer conceber sua vida sem ela? Talvez umas quatro ou cinco vezes, talvez nem isso. Quantas vezes mais você vai assistir ao nascer da lua cheia? Talvez 20. E, no entanto, tudo parece sem limites…”
Ah, um pequeno momento de felicidade é, assim, quando você constata que estava escrito pelo mundo um raciocínio que você sempre teve. Mesmo sendo uma ideia dura como essa. É encontrar um cúmplice, alguém que se debruçou sobre o pensamento com o qual você convive, expressando-o da forma ideal.
É instigante, mesmo tendo sido de uma leitura atrasada de uma revista. E mesmo sendo uma citação de um filme que eu não vi (O céu que nos protege, de Bertolucci), baseado na vida de um casal de escritores que eu não li: Paul Bowles e Jane Bowles. Não tem importância.
O trecho é de um artigo muito bom de Fernando Monteiro, Sob o sol de Tânger ou de Málaga, na Continente #115.
Foto do Flickr de Emiliano Zapata.
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