5 livros para entender mais sobre o Irã
Por Márcia Lira em
Hora ou outra eu fico ressentida de não conseguir entender os conflitos do Oriente Médio. E então desde que as tensões entre Irã e EUA voltaram a ocupar as manchetes isso veio à tona de novo. Foi com o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, um importante líder político e militar no Irã, durante o ataque norte-americano,
Na verdade, ao ler as notícias fico com vontade de entender mais sobre o Irã e não sobre os Estados Unidos. Afinal, passei nada menos que a vida inteira – até os tempos atuais com certeza – sendo influenciada digitalmente, economicamente, culturalmente pelos norte-americanos, como todos nós.
Então para tentar fazer isso lendo, pesquisei e achei 5 livros que me pareceram incríveis para entender a cultura, a política, a religião dos países do Oriente Médio, em especial o Irã.
São muitos os livros de análise política sobre o assunto, mas o meu intuito era mesmo mergulhar na literatura produzida por escritores que nasceram ou moraram no país. A maioria fala das mudanças após a revolução de 1979.
Uma pena é que são poucas as obras traduzidas do Persa, a língua oficial do Irã, para o inglês. E para o português, então, menos ainda. Se vocês leram algum desses livros, me contem o que acharam. Também deixem nos comentários indicações de outras leituras sobre o tema.
1. Lendo Lolita em Teerã, de Azar Nafisi
Fiquei empolgada para ler todos os livros dessa lista, mas esse em especial virou um “preciso ler”. A Azar Nafisi é uma professora de Literatura que ficou mundialmente reconhecida por esse livro, traduzido para 32 idiomas.
Na obra, ela conta como resistiu aos terrores do regime imposto pelos aiatolás, depois da revolução de 1979 que aconteceu no Irã. Na ocasião, coisas absurdas que tinham sido banidas há tempo como homens poderem casar com meninas de 9 anos voltaram a vigorar no País.
Depois de ser impedida de ensinar literatura na universidade, Azar passou a reunir meninas em casa para ampliar os horizontes para fora do regime por meio da literatura.
Neste vídeo da booktuber Tati Feltrin sobre o livro, ela conta como é interessante também o contato com o ponto de vista da autora sobre obras clássicas como o próprio Lolita ou O Grande Gatsby.
2. Persépolis, da Marjane Satrapi
É um quadrinhos sobre o qual você já deve, no mínimo, ter ouvido falar. É da iraniana Marjane Satrapi, que tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas.
A autobiografia foi escrita 25 anos depois, onde “o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama – e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar”, segundo a resenha.
Eu não conheço uma pessoa sequer que não tenha amado esse livro, no entanto tenho ele em casa e ainda não li. Vai entender. Mas aí você pode ficar ciente de que é uma leitura certa, pode apostar.
3. Os Versos Satânicos, de Salman Rushdie
Esse é um dos casos de “sempre vi esse autor na estante dos meus pais e não fazia ideia do que ele significava”. O escritor britânico de origem indiana Salman Rushdie recebeu em 1989 uma sentença de morte do líder do Irã, o aiatolá Khomeini, por ter escrito o romance Os versos satânicos.
A obra é acusada de ser “contrária ao Islã, ao Profeta e ao Corão”, e a reboque todos os envolvidos na edição e publicação do livro foram condenados também.
O enredo que despertou a ira de muçulmanos anos a fio conta as aventuras de dois indianos muçulmanos que sobreviveram a um atentado a bomba de separatistas sikh em um avião. A trama tem toques de realismo mágico.
Por causa deste livro, o escritor – e família – passou 13 anos vivendo com escolta dia e noite. Sobre este período de ameaças constantes, ele escreveu as memórias Joseph Anton, o seu nome falso escolhido com base nos primeiros nomes dos escritores favoritos, Joseph Conrad e Anton Tchekov.
4. O livro do destino, de Parinoush Saniee
Essa dica eu peguei das indicações de leituras sobre o Irã, no Viaggiando. A Camila Navarro tem o projeto #198livros, em que ela dá a volta ao mundo por meio da leitura. Inclusive, há alguns anos rolou uma entrevista dela aqui no blog, dá uma olhadinha.
A socióloga e romancista iraniana Parinoush Saniee escreveu sobre um romance proibido adolescente na Teerã pré-revolucionária. Enquanto acompanhamos a história da menina Massoumeh, entendemos cinco décadas de história do Irã. O governo iraniano proibiu o lançamento do livro duas vezes, mas a obra acabou se tornando best seller nacional e sucesso no mundo.
5. Meninos de Zinco, da Svetlana Aleksievitch
Apesar de ser de 1991, o título é novidade no Brasil editada pela Companhia das Letras, com tradução de Cecília Rosas. A nova obra da Prêmio Nobel de Literatura está em pré-venda nas livrarias, com expectativa de chegada dia 28 de fevereiro.
A escritora e jornalista bielorussa de A guerra não tem rosto de mulher e Vozes de Tchernóbil – A história oral do desastre nuclear tem um estilo de literatura à base de relatos reais coletados em entrevistas.
Já no Meninos de Zinco, Svetlana coloca em sua perspectiva única e humana os efeitos da guerra das tropas soviéticas no Afeganistão, entre 1979 e 1989. Tudo com base nos testemunhos honestos de soldados, médicos, enfermeiras, mães, esposas e irmãos dos que se perderam no conflito.
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AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 11 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
[…] Leia mais aqui: http://menos1naestante.com/5-livros-ira/ […]
Puxa de todos esses cinco livros expostos eu não li nenhum! Persepólis já passeou aqui em casa por um tempo antes de sumir. Também não entendo e suspeito que será difícil de entender os conflitos do Oriente Médio.