[Resenha] Hibisco Roxo da nigeriana Chimamanda
Por Márcia Lira em
Por Ellen Guerra
Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há uma única história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso. É assim que Chimamanda Ngozi Adichie finaliza sua conhecida palestra O Perigo de uma única história no TEDx. E é isso que a autora faz ao apresentar em seu romance de estreia, Hibisco Roxo, a história de Kambili. Uma adolescente de 15 anos que vive na Nigéria pós-colonial.
Kambili não é só a protagonista, ela é a voz narradora da história. Filha de Eugene um rico industrial convertido à religião católica e carinhosamente chamado de Papa. Eugene é fanático, superprotetor e violento. Controla todos os acontecimentos da casa. Os filhos possuem horários marcados para todas as atividades que são checadas exaustivamente.
A casa é silenciosa. Um ambiente estéril, extremamente limpo da sujeira e do pecado. Não há conversas ou discussões. As refeições são marcadas por longas orações seguidas de longos silêncios.
A única voz ativa é a de Eugene. Beatrice a Mama e Jaja o irmão mais velho fazem parte do coro silencioso que apenas acende positivamente as ideias do pai. A todo instante a narradora se arrepende por não ter dito algo que papa gostaria de ouvir.
Hibisco é uma planta de folha e flor exuberante que crescia aos montes no jardim da casa, mesmo com as muitas tentativas da Mama de podar as flores. As recordações de Kambili começam com o florescer dos hibiscos ainda vermelhos.
A metáfora é óbvia, mas a percepção da narradora é delicada e frágil na maior parte do tempo. As sucessivas mudanças que a família enfrentará vão perpassar as fases da flor.
A primeira mudança acontece na cena inicial do livro, no domingo de ramos quando Jaja decide não receber a comunhão. O ambiente controlador será posto em cheque e Kambili teme as consequências da atitude do irmão. Mas não vamos saber logo o que acontece porque temos um corte na história para conhecermos os personagens que modificam a trajetória da família. Aqui destaco dois deles, Tia Ifeoma e Papa Nnukwu.
Ifeoma é uma professora universitária que vive Enugu. Kambili, ao visitar sua tia, fica impressionada ao perceber a facilidade com que seus primos conversam, expoeme sua opinião e até mesmo discordam. Enquanto ela possui o que chama de “bolhas na garganta” que impedem as palavras de saírem.
Tia Ifeoma é mais uma das personagens femininas fortes que permeiam os romances da Chimamanda. Caso existam coincidências, esse é também o nome da mãe da autora.
Um dos meus personagens favoritos é Papa Nnukwu, avô de Kambili e Jaja. Eugene proíbe seu próprio pai de entrar em sua casa o acusando de ser um pagão. Papa Nnukwu possui a religião dos antigos nigerianos, com muitos deuses, cantos e oferendas. Suas falas são permeadas por ingenuidade e cinismo. Ele não consegue compreender o deus branco do seu filho:
Quem é essa pessoa que foi morta, essa que fica pendurada na madeira do lado de fora da missão? Eles disseram que era o filho, mas o filho e o pai também eram iguais. Foi então que eu tive certeza que o branco era louco”.
Hibisco Roxo é sobre a dificuldade de crescer e pertencer. Como sobreviver e criar identidade em um ambiente instável e violento. É acima de tudo bonito e sensível.
Nota: 4/5
Editora: Companhia das Letras, 2011.
Páginas: 328
ISBN: 978-85-359-1850-2
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Colaboração: Ellen Guerra
Jornalista e mestranda em comunicação e cultura contemporâneas.
Encontre Ellen no Twitter e acesse o blog dela Chá das Cinco.[/box]
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3 comentários
Coloquei Hibisco Roxo na minha lista dos melhores livros que li no ano passado. Depois dele, fiquei fã de Chimamanda e estou lendo os outros dela. Gostei muito da resenha, mas o meu personagem favorito é a tia Ifeoma 🙂