Quarentena: 5 livros que dizem algo sobre o que estamos vivendo
Por Márcia Lira em
Em meio à pandemia do coronavírus, o romance A Peste, do Albert Camus, virou best seller na Europa e passou a frequentar a lista de mais vendidos, junto com outros romances distópicos como Ensaio sobre a cegueira, do Saramago.
Desde que esse cenário louco chegou ao Brasil tenho lembrado de obras e tenho visto referência a outras, mas hesitei um pouco em fazer esse post.
Afinal, o medo e a ansiedade são os sentimentos comuns, será que é bom a gente ler uma narrativa bad vibe que se assemelhe com o que estamos vivendo?
Era o que eu me perguntava até ler essa matéria da BBC sobre o aumento da procura pelo livro do Camus. A colocação de um pesquisador me chamou a atenção:
Na opinião do pesquisador de Camus Raphael Luiz de Araújo, doutor em Letras pela USP e tradutor de Os Primeiros Cadernos de Albert Camus, “diante da doença precisamos nos repensar — quem somos, o que estamos enfrentando. Por falarem da condição humana, esses livros ganham interesse. (…) E é também uma forma de buscar esclarecimento, tem um potencial didático, que é pensar como foi para pessoas que viveram e pensaram nisso”.
Matéria da bbc.com
Sendo assim, achei que pode ser uma experiência rica recorrer à literatura para entender outro ponto de vista sobre esta experiência que estamos vivendo aqui e agora, e ainda é muito difícil de processar.
Então vamos?
Trouxe aqui 5 leituras que têm a ver com o cenário em que nos encontramos hoje.
Você tem outra indicação? Deixa nos comentários! Dá para ler o e-book ou então pedir o livro físico pela internet, o importante é que você #fiqueemcasa.
1 – A Peste, Albert Camus
Um belo dia na década de 40 na cidade de Orã, na Argélia, milhares de ratos saem do subterrâneo e tomam as ruas da cidade, para em seguida morrer.
A vida dos habitantes se transforma quando a partir desse episódio, as pessoas também começam a pegar a doença e a ter o mesmo destino em muitos casos.
Rieux é o personagem principal, uma médico na linha de frente de combate contra a peste.
A principal interpretação do romance é que ele faz referência à ocupação alemã em Paris durante a 2ª Guerra Mundial, já que ele foi lançado pouco depois do fim do confronto, em 1947.
Deve ser um livraço, a tirar pela minha experiência do maravilhoso e filosófico O Estrangeiro, também do escritor franco-argelino, sobre o qual dediquei um post inteiro nesse blog.
2 – Ensaio sobre a cegueira, José Saramago
Além de ser um dos títulos mais famosos do autor português prêmio Nobel de 1998, Ensaio sobre a cegueira foi aos cinemas numa produção brasileira de 2008 dirigida por Fernando Meirelles.
Então a história é mais conhecida: de repente as pessoas ficam cegas de forma aleatória, e passam a ser confinadas e a depender dos cuidados dos que ainda enxergam.
É um cenário que desencadeia uma série de consequências que trazem à tona e questionam as relações humanas, generosidade, afeto, egoísmo dda sociedade e dos indivíduos.
“José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios”, conta a resenha e me parece definir bem.
Até agora eu li duas obras de Saramago, o suficiente pra me fazer fã. São elas O Conto da Ilha Desconhecida e O Homem Duplicado.
Mas justamente por já ter sentido a profundidade em que o autor consegue nos mergulhar, acho que não tenho coragem de ler esse por hora, hahaha.
3 – Morte em Veneza, Thomas Mann
Essa novela do autor alemão Thomas Mann começa quando um autor consagrado decide quebrar a rotina e partir em viagem.
Durante estadia em Veneza, se depara com um rapaz de extrema beleza chamado Tadzio e fica hipnotizado.
Enquanto o escritor de meia-idade lida com seu encantamento pelo adolescente, a sintonia com os tempos atuais é que no pano de fundo está rolando uma epidemia de cólera.
Um problema ocultado pelas autoridades para não prejudicar o turismo.
O livro é de 1912, deve ser bem interessante ver o autor descrever essa experiência, com mais de um século de distância.
Thomas Mann é também Prêmio Nobel de Literatura. Essa dica foi da Andréa Marinho
4 – A dança da morte, Stephen King
Então, eu não fazia a menor ideia que o Stephen King, tão famoso pelas suas obras de terror, tinha escrito essa distopia A Dança da Morte, outra dica da Andréa Marinho.
Um erro no Departamento de Defesa libera um vírus que dizima 99% da população da terra.
O fim do mundo se torna o cenário onde o restante dos habitantes sobrevivem em pânico, vários personagens colocados o tempo todo para fazerem escolhas de complexidade moral.
O livro foi lançado em 1978 pelo autor norte-americano.
5 – Black Hole, Charles Burns
O clima de horror, delírio e insanidade toma conta dos adolescentes na década de 1970, quando uma praga começa a se espalhar por contato sexual.
Um mal sem nome e sem forma que se manifesta em cada um de maneira diferente, às vezes por mancha, às vezes com grande deformação forçando os jovens a viverem em auto-exílio nos arredores de Seattle, nos EUA.
A graphic novel com traços fortes em preto e branco foi vencedora do prêmio máximo dos quadrinhos, o Eisner Awards em 2006.
Publicada de forma seriada por uma década, ela pode ser lida em uma edição da Darkside com três volumes.
3 comentários
Lista linda! Já li 4 dos 5. A Dança da Morte não é o meu favorito do King mas é o de muita gente. É um calhamaço com várias histórias e vivências, cada um lidando de forma diferente com o vírus. É uma imersão profunda nas questões morais sem esquecer das alegorias ao céu/inferno que são bastante presentes.