Por que ler livros escritos por mulheres?
Por Alessandra Barreto em
Eu leitora na minha procura incessante das palavras ditadas pelo que me cerca, estou sintonizada na mesma frequência de outras leitoras e não raro, capto algo que trago para mim que reverbera e faz nascer ou renascer a ideia embrionária.
Semana passada me aconteceu e como diz Clarice, eu respeito muito o que me acontece.
Li a seguinte frase: “meu olhar de leitora é muito masculinizado”, tratava-se de uma reflexão da Márcia Lira, do perfil @menos1naestante. Imediatamente fui transportada para meus pensamentos e num diálogo interno começamos a tecer o que agora vem morar no papel.
A trajetória que construí e ainda percorro na leitura é seguir o que meu instinto indica. Leio o que me convida. Sou curiosa, gosto do desconhecido, farejo novidade…. e os livros que me encontraram chegaram assim. Confesso que não ficava escolhendo por autor ou autora, respeitava aquele escrito e só. Deixava a obra falar por si. Não me arrependo.
Hoje não é bem desse jeito, atribuo a um certo amadurecimento. Os livros que escolho para minha estante dizem muito de quem eu sou e o que defendo.
É certo que meu acervo de escritos por mulheres aumentou. Mas por quê? O que isso diz de mim? Aprendi com Woolf que as mulheres tiveram suas vozes abafadas, escritoras nasceram e morreram sem que ninguém as lê-se ou talvez, quem sabe, tenham sido lidas sob pseudônimos vários e masculinos. A primazia dos escritores fez a literatura unilateral, vimos a mulher pelo olhar do homem, do outro.
Quando as mulheres ousaram escrever suas próprias estórias, sem um teto e depois com um teto sofridamente conquistado, suas vozes ecoaram em outras vozes e outras e outras e as estórias se conectaram em uníssono.
A literatura é assim, através dos livros faz com que alguém a milhões de quilômetros seja capaz de conversar com outro alguém, que os lê num quarto apertado com pouca luz enquanto o filho dorme.
Considero-me uma entusiasta da leitura! Essa é minha bandeira. O que me importa é que todos e todas leiam.
Clássicos ou contemporâneos. HQ’s ou enciclopédias. Calhamaços ou edições de bolso. Autores ou autoras. Ler é transformador e segregar leituras para mim não contribui em nada, ou melhor, alimenta que pessoas permaneçam sem ter o prazer ou a vontade de ler. Por medo ou preconceito, consideram sua leitura menor por gostarem de ler romances com narrativas simples, comuns.
Eu leio mulheres
Não sou dada a extremidades, leio escritores que para mim são mestres da escrita, aprendo com suas narrativas labirintosas e me vejo vasculhando em seus corredores. E leio mulheres! Claro! Só que por uma decisão consciente, cedo ao chamado desse movimento, que também é meu.
A leitura guiada aos livros escritos por mulheres, não ocorreu por cobranças externas ou pelo fato de ser mulher, é um processo que se desenvolveu na medida que mergulhei mais e mais fundo no universo das letras, nessa minha busca por construir a mim enquanto leitora ativa e constante.
Mulheres aprendem mais sobre si mesmas lendo outras mulheres.
E os homens também podem ler mulheres para abrir suas mentes e expandir seus horizontes ofuscados pelo patriarcado. Para ouvir as vozes femininas e aprender com elas.
E as mulheres não trairão as escritoras ao ler escritores. Nossa literatura possui autores responsáveis por importantes movimentos na construção da arte nacional e ainda merecem/são dignos de serem lidos. Dignos do nosso tempo de leitura.
A escolha é livre e de cada um e cada uma. Eu leio mulheres para apoiar escritoras independentes, para me juntar ao coro universal. E na minha prateleira habitam cada vez mais vozes femininas.
Questionamentos base:
- O fato de eu ser mulher é condição sine qua non (locução adjetiva; indispensável, essencial) para que eu leia outras mulheres?
- Existe alguma pressão interna e/ou externa para que mulheres leiam mulheres?
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