Pela crítica literária, arquibancadas cheias
Por Márcia Lira em
São pouquíssimas as oportunidades que surgem no Recife para discutir literatura, por isso achei o projeto O Laboratório (que tem perfil no Twitter) uma iniciativa louvável. Ontem, rolou o primeiro de vários encontros que vão ocorrer toda segunda terça-feira de cada mês, com foco na atividade da crítica.O melhor é que o Teatro Apolo Hermilo, no Bairro do Recife, ficou cheio – faltou lugar nas arquibancadas – e o clima intimista do espaço favoreceu a troca de ideias. Para quem não foi, conto um pouco.
Crítica para quê? Era a pergunta-proposta do encontro. “O crítico é alguém que leva a pensar, a refletir, a criar gostos. O crítico é alguém que cria gostos”, disparou o professor de Literatura da UFPE, Anco Márcio Tenório, convidado junto com Schneider Carpeggiani, repórter de cultura do Jornal do Commercio e editor do suplemento Pernambuco.
Mais do que a pergunta proposta, o assunto recorrente foi a falta de espaço para a crítica literária na imprensa – fato. Alguém da plateia citou os textos longos da época em que o poeta Alberto da Cunha Melo era editor do Jornal do Commercio. Mas eu lembro bem num passado mais recente das páginas inteiras que o Diario de Pernambuco dedicava ao assunto, com matérias de Mário Hélio que eu adorava ler.
Essa história sempre entra naquela discussão do “ovo e da galinha”: é o leitor que não se interessa ou o jornal que não dedica espaço? Representante da mídia ali, Schneider apontou como agravantes o pouco interesse dos próprios jornalistas em literatura e as escolhas editoriais que naturalmente priorizam cinema e música.
Poxa, mas e a internet não seria um espaço para escoar a crítica? Foi a pergunta que eu pensei e alguém fez antes. Carpeggiani me convenceu ao dizer que o papel ainda tem um status muito maior do que algo na web, pois conta com a legitimação de uma instituição por trás – vide credibilidade. Que é verdade, é. Mas isso está mudando e, num caminho natural, essa balança pode virar.
Como observou Anco Márcio, o espaço na imprensa também é reflexo da sociedade: “As pessoas compram livros mas ninguém fala mais sobre literatura”, disse o professor lembrando que o País ocupa a alta posição de 8º lugar no mercado editorial, “elas devem guardar no armário para ler quando se aposentarem”, continuou, provocando risos. “O mundo hoje não favorece. É preciso o leitor gostar muito de si para parar 5 ou 6 horas sozinho mergulhado numa história que não existe”, brincou.
Outra coisa crucial que o professor da UFPE destacou foi sobre o conteúdo das críticas: “Elas só costumam falar o quê o livro diz e não como o livro diz, o que é mais importante. A literatura tem 30 ou 40 temas, não tem segredo. A diferença é o autor dizer de uma forma que faz você ver o mundo de uma forma nova”. E que venham mais Laboratórios.
Fotos de Aleksandr Slyadnev e Felipe Morin
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