Pablo Neruda, o poeta que colecionava casas no Chile
Por Márcia Lira em
Se tinha uma coisa que Pablo Neruda gostava de colecionar, além de palavras, eram casas. No Chile, são três, cada uma mais peculiar que a outra. Conheci duas quando visitei o País, e vou contar um pouco sobre elas: a minha homenagem ao poeta, pelos 40 anos da sua morte. Para entrar no clima, dê o play nessa compilação linda da BBC, que convocou 21 repórteres de várias nacionalidades para recitar o Poema 15, um dos mais famosos do autor:
É triste que exista um cenário nebuloso em torno desta data, que é o não esclarecimento da real causa morte do poeta, em 23 de setembro de 1973. Há suspeitas de que ele pode ter sido vítima da ditadura Pinochet, e não de complicações de um câncer, como se acreditava até há pouco. A dúvida motivou um forte debate entre um dos guias da Fundación Neruda e um turista, numa das visitas que fiz às casas.
A primeira que conheci foi a La Sebastiana, casa que fica numa cidade portuária a 120km de Santiago. Cheia de altos e baixos, vista para o mar por todo lado, a charmosa cidade de Valparaíso é só a deixa para a casa ter a forma que tem: imitando um navio. Não só na fachada, que é a parte que vocês podem conferir nas fotos, porque dentro câmeras são abolidas. Cada cômodo foi pensado para fazer Neruda se sentir em alto-mar. A obsessão é tanta que um dos quartos tem até uma inclinação no chão.
No mais, é fantástico entrar nos ambientes que o poeta chileno criou pra si, com livros, móveis, manuscritos, os mais diferentes artigos de decoração de várias partes do mundo, resultado de viagens dele ou de amigos. Dá pra ter certeza que Neruda gostava muito de receber os amigos para comer, beber e trocar ideias. E aqui e ali, a gente vai identificando uma vista, um cantinho, pequenas coisas que o inspiraram ou até renderam algumas estrofes.
Para ir à outra casa museu de Neruda, não precisa ir tão longe, pois ela fica mesmo na capital do Chile. Se você for conhecer as moradias do poeta que viraram museu, sugiro que essa em Santiago seja a primeira, pois é a mais normal. La Caschona foi erguida em 1953, e fica no bairro de Providencia.
O nome significa “A descabelada”, em homenagem à amante Matilde, que depois virou esposa. Uma parte da casa foi destruída por agentes da ditadura militar, mas muito foi reconstruído e remontado. Aqui a gente interage menos com os ambientes, mas também dá pra viajar vendo tudo montado, como se o nobel de literatura ainda morasse ali. A mesa, os pratos, os talheres, os copos, tudo parece ter um porque de estar.
Por último, tem a casa de Isla Negra, onde o poeta passou os últimos dias. É lá que estão o túmulo dele e de Matilde. Dizem que é a mais bonita, mas eu não tive oportunidade ainda de conhecer.
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