Os argumentos sobre o futuro do livro
Por Márcia Lira em
Quando me deparo com as questões livro em papel x livro digital, fico muito aberta aos argumentos e às possibilidades. O fato de estarmos em pleno momento de transformação torna muito mais difícil ver as coisas com clareza. Para ajudar, aparecem com frequência coisas legais como essa reportagem do programa ModMTV, ótima dica de @adelmovas (depois de ver oo bloco 1, passem para o 2).
Diferente de muitas reportagens que nascem para provar uma teoria, se é que vocês me entendem, essa conseguiu mostrar pontos de vista interessantes, tanto apontando para o fim do livro em papel quanto para o lado inverso. Uma das coisas que mais me chamaram a atenção foram a considerações da Ann Thornton, da Biblioteca Pública de Nova York, uma das primeiras a participar do projeto de digitalização de livros do Google, hoje a que tem o maior acervo digital dos EUA, uns 400 mil livros. Ela notou que a procura pelos livros digitais cresceu bastante, mas o aumento é observado em relação ao formato tradicional também: “As pessoas estão visitando a biblioteca e retirando livros impressos mais do que nunca em toda a nossa história. Os números cresceram no geral, no impresso e no digital”.
Uma corrente acredita que títulos mais científicos e universitários farão o sucesso do formato digital, pois são livros pelas quais as pessoas não têm apego emocional, fetiche. E então vem esse estudante entrevistado e diz justamente o contrário: livros de leitura, tudo bem nos e-readers, mas os de estudo, melhor fisicamente para grifar as coisas, fazer anotações, rasurar. Enfim, ele acha o palpável importante para o aprendizado.
Outra coisa que me surpreendeu foi ver as pessoas sempre falando do ato de “virar a página” quando se referem ao apego ao livro de papel, enquanto aqui no Brasil o unânime é citar como é legal o “cheiro do livro”. Será que é cultural?
Vale também ler o depoimento de adepto aos e-readers que o @tarrask deixou aqui no blog, dia desses.
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 14 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
Também acho, Filipe, que ainda vem coisa muito melhor, que muita coisa vai acontecer ainda. O cenário não é esse. Eu não acho os tablets ideais para ler porque eles são computadores, né, dispersa. Mas também não tenho um pra dar uma opinião mais consistente 🙂
Eu acho que concordo mais com o primeiro argumento: livros técnicos, num kindle, são MUITO melhores. A informação pode ser atualizada com mais frequência, as anotações podem ser compartilhadas com o computador ou ir diretamente pro editor de texto, para ilustrar um trabalho. Penso, por exemplo, na epoca em que escrevi a monografia e o tempo que perdi re-digitando frases grifadas, procurando a página para linkar, etc. Isso tudo é passado agora.E não sei se concordo muito com o argumento do Felipe, da tela que dói nos olhos. Eu passo 12, 14 horas por dia olhando pra telas. Como a maioria das pessoas normais. A diferença é que, com o ipad, eu deito numa posição confortável para a coluna.
Ótimo video, Márcia. Essas discussoes sao cativantes demais, tenho pensado sobre elas nos meus estudos sobre livros. E concordo com voce que nao é legal defender causas nem negativas nem positivas quantos aos leitores digitais. É como umas das últimas entrevistadas respondeu: nao importa se voce gosta ou nao, essas mudancas simplesmente existem e nós todos fazemos parte delas.
Alex, naturalmente não olhamos constantemente para nada que emita luz. Mesmo que com pouca intensidade, me parece que um aparelho que emita menor quantidade de luz, com bom contraste é uma medida melhor para a saúde dos olhos. Outro beneficio de telas que não emitem luz é a pouca geração de calor e menor consumo de energia. O lado ruim é ainda a falta de cores e poder gerar vídeos.
Filipe, não é natural, do mesmo jeito que não é natural vestir roupas, tomar suplementos alimentares ou ler.Mas é algo que fazemos, o tempo todo. A tela do Kindle não emite luz. A tela do iPad sim. São aparelhos diferentes e podem ser usados em situações diferentes (eu estou pensando em comprar um kindle para ler na piscina), e isso não significa q vou gostar menos do iPad.Mas atualmente já é melhor estudar num ipad ou num kindle do que num livro normal. Não conheço ninguém que passou mais de 5 meses usando um aparelho desses e queira voltar ao passado. Nem uma só pessoa.
Bom, no meu caso, o que menos me empolga num iPad é a distração, porque sei que estarei lendo um livro nele e vou dar uma paradinha pra checar o Twitter ou e-mail. Mas eu sei que tem gente ainda se incomoda com a questão da luz, embora isso tenha decaído a meu ver. Tem muito de mudança cultural mesmo. Cada vez mais gente tem se tornado nerd como a gente, Alex, que passa o dia todo no computador que nem sente :)Contraditoriamente, será um iPad e não um Kindle minha próxima compra, por causa dessas mesmas outras utilidades. Custo x benefício, conta.
eh, o ipad permite um mundo inteiro de distrações. mas voce também pode se distrair com um livro e um computador do lado. eu estou tentando muito me livrar de redes sociais como vício, porque é sempre mais fácil fazer alt+tab do que continuar seguindo linhas de raciocínio, tanto pra ler quanto para escrever.o ipad é um equipamento maravilhoso para muitas coisas. me fez parar de usar o notebook (na realidade, o meu morreu mesmo, e para substituí-lo, optei por um computador de mesa. Nao sinto falta nenhuma).ter um ipad e um kindle é um luxo, no brasil. nao dá pra escolher entre os dois. nos eua, é algo completamente diferente. se morasse no brasil, eu teria apenas o ipad. mas o kindle aqui custa o mesmo que três livros de papel, e eu posso ir à piscina e levá-lo, coisa que nao dá com o ipad. na realidade, o problema da luz do ipad é o contrário do que o Filipe disse antes: eu nao posso ler um ipad na varanda, de manhã, deitado numa rede, nao deixa. doer nos olhos, luminosidade, essas coisas, pra mim fica naquele mesmo lugar da sabedoria popular que diz que ler com pouca luz faz mal pra vista. lenda urbana contada por vó, que até hoje não foi comprovada pelos mythbusters.
Exatamente, alt+tab é muito mais fácil. Criei uma enquete no FB pra saber se as pessoas ainda se incomodam com a ideia de luz refletida na tela :http://www.facebook.com/questions/239386332776400/?qa_ref=qd
Infelizmente no Brasil um Kindle não vale 3 livros com os preços daqui e muito menos os dos EUA. Sinceramente não estou disposto a pagar R$700 em um (Preço médio do Mercado Livre). A questão das telas realmente vai de cada pessoa. Uma outra questão que quero puxar aqui, em relação a tablets e e-Read's. Qual a opinião de vocês sobre o governo do Brasil reduzir os impostos para os Tablets, em lógica substituições aos notebooks para implementação nas escolas e se os leitores digitais seriam uma opção.
acho que diminuir impostos é sempre uma boa.um tablet é uma ferramenta bem diferente de um e-reader no aspecto didático. você pode instalar programas, aplicações e tal, e com mais gente usando, teria mais incentivo comercial para que editoras criem conteúdo específico, aplicações relacionadas a estudo e tal. até porque é mais difícil piratear conteúdo, e esse é o grande problema da indústria de software brasileira.eu acho que na equação entre tablet e e-reader, está faltando responder quem vai criar conteúdo, e porque. normalmente, as pessoas trabalham por dinheiro, e se não estiver respondido quem vai pagar por isso, o trabalho todo vai dar com os burros n´água.tipo, há mil e um programas pra escolas aqui nos eua. aplicações que ensinam de tudo. e as pessoas pagam. ou, em alguns casos, escolas ou universidades. como no brasil há uma vergonha grande de pagar por educação, todo mundo quer tudo de graça, teremos que esperar que "o governo faça alguma coisa", o que provavelmente significa esperar Godot."há conteúdo bom e grátis na internet". é verdade. eu acho que 60% do que aprendi foi lendo coisas gratuitas na rede. mas é tudo em inglês. não há muita informação decente e interessante em português (ou espanhol, ou qualquer outro idioma), e a população que fala inglês no brasil, normalmente, é a que pode pagar por educação e não paga.enfim, é positivo baixar o preço do hardware. mas precisamos pensar em quem vai criar o software.
O Conteúdo digital como o material no Brasil é vendido não para ser o mais vendido e por consequência lucrativo, mas só ser lucrativo, o que torna o produto mais caro se não ter uma quantidade boa de vendas.Dei uma olhada hoje no site da livraria cultura para comparar um livro físico e um digital e a diferença foi de 2 reais, além de ter poucos títulos o preço é desestimulador. O livro Ágape na versão digital é R$2,90 mais caro do que a impressa (Livraria Saraiva), isso me revolta!
todo mundo trabalha por lucro. o problema é chegar no equilibrio mais vendas x preço ideal. no mundo todo, o processo de dar preço aos livros digitais está engatinhando. o seth godin vive fazendo experiências, e até agora nao chegou a nenhuma conclusão.na amazon, os livros digitais constumam ser um pouco mais baratos, 1 ou dois dolares, nada excepcional. nao sei se no brasil, livro digital é tributado como livro ou como software, e coisas assim, que podem piorar bastante o processo.mas, pra você ter um exemplo, eu publiquei um livro no lulu.com e no clubedeautores.com.br. é mais barato comprá-lo no site americano e pagar o frete do que pedir no site brasileiro. e o autor, nos dois casos, ganha mais ou menos a mesma coisa, se calhar, ganha mais no lulu. ou seja, o fornecedor brasileiro é foda.
O livro aqui ainda tem um preço salgado, mas como dizem que a leitura está aumentando… Os preço estão diminuindo. Como aqui tudo é "Chic" vai demorar muito para o eBook popularizar-se. E eu na esperança (o Brasil vive disso), de conseguir um eReader.
É bem interessante a redução de impostos para tablet, um grande avanço, pois o Governo pensou adiantado, em vez de esperar a popularização deles para se adaptar. Digo isso porque o projeto Um computador por aluno, que distribui computadores nas escolas públicas, ainda não engatou e enfrenta vários problemas.Por isso mesmo, também não adianta só ter o hardware, tem que ensinar aos professores como usar, como explorar na educação, uma nova forma de pensar. E a questão do preço, me parece que as editoras ainda estão naquela vibe "hora de lucrar", querendo tirar a "barriga da miséria". Não dá pra comparar o custo de um livro de papel (impressão, estoque, distribuição) com o bem mais light de um e-book. Não faz sentido tão pouca diferença de preço. Tem um longo caminho ainda aqui no Brasil.
O one laptop per child falhou porque é um sistema fechado e ninguém desenvolve programas/conteúdo/software para eles.Não há um ecossistema de desenvolvimento.É o mesmo problema do mercado de ebooks em qualquer idioma ocidental que não seja o inglês.
Não me importo o modo como os livros chegam a mim, (ebooks ou livros impressos) me importo mesmo com o conteúdo desses livros. Também não creio que os livros digitais possam um dia substituir os livros impressos… por vários motivos, como por exemplo:
Nem todas as pessoas tem condições para comprar os aparelhos digitais.
As pessoas tem apego aos livros (ao cheiro,a poeira, as manchas, as dedicatórias, e etc.)
Eu faço uso dos dois modelos (ebooks e impressos) cada um se adéqua melhor a um momento e a um lugar que eu estou… Livros impressos são melhores para se ler em casa, já os ebooks são melhores para se ler enquanto se está dentro do ônibus, metro e vc quer passar o tempo.
Concordo. Livros em papel são o fino da bossa, e e-books são o que tem pra hoje (praticidade).
As telas de hoje não me convencem, acho que vai ter coisa MUITO melhor no futuro. Essa tela do iPad/Tablets é horrível de ler mais de 30 min, a do Nook Simple, Kindle entre outros, ainda está no início com as telas com e-link.Se a função é ler da infância até o fim da vida, as telas não podem prejudicar a visão das crianças pelo resto da vida nem cansar a vista do vovô.Pra mim o eReader e os Tablets vão coexistir por muito tempo, não por falta de capacidade, mas sim por função. Os eReader's com tela colorida para revistas e livros; leve e barato; melhor capacidade de precisão na tela, para fazer anotações; perfeito para crianças na escola ou pessoas que não querem se distrair. Tablets com tudo que já oferecem, mas com uma tela que não maltrate mais nossos olhos.