Leitura superficial x profunda: é preciso processar as leituras e ler melhor
Por Márcia Lira em
Como você processa as suas leituras? Em tempos de overdose de informações, recebemos tantas mensagens, notificações, distrações, que a apreensão dos conteúdos fica prejudicada. É preciso ler melhor. Então saber pausar para refletir sobre as leituras feitas me parece um luxo necessário.
Chamo de “luxo” porque a gente mal tem tempo pra ler, né? Imagina para ruminar o que leu.
Mas percebi que precisava dar mais atenção a isso em janeiro deste ano. Lancei o desafio #lendotododia para me estimular e a todos os que acompanham o Menos1naestante a cultivar o hábito da leitura diariamente.
A ideia do desafio é não se apegar a número de páginas ou tempo de leitura, mas focar em criar a rotina de abrir um livro, seja para ler pouco ou ler muito. O importante é fazer sua mente entender que ler é algo de todo dia.
Ler melhor e absorver
Fez tanto sentido pra mim que li quase todos os dias de janeiro, finalizei dois livros que trouxe de 2021 e ainda li outro curtinho. Quando ia passar para o quarto livro do ano, senti a necessidade de processar essas três leituras: Vida Desinteressante, de Victor Heringer, O que a casa criou, de Diogo Monteiro, e Best Seller: a literatura de mercado, do Muniz Sodré.
O meu jeito de processar as leituras é escrevendo sobre elas. Não necessariamente um texto pronto, mas ao menos tópicos que me ajudem a lembrar os pontos que mais marcantes, que chamaram atenção, deixaram pulgas atrás da orelha, me encantaram ou pediram críticas.
Tem uma lista com algumas perguntas que me faço, que costumam me guiar para pensar sobre a obra. Resolvi compartilhar esse checklist aqui pra ajudar quem quiser:
11 perguntas para se fazer ao final da leitura
- A experiência de leitura foi prazerosa? Por quê?
- Qual tema principal e secundário da obra?
- Como estava a sociedade na época em que esse livro foi escrito?
- Quem escreveu o livro e como essa publicação se situa dentro de toda a sua obra?
- Quem narra a história?
- Como você descreveria a linguagem usada no livro, há algo peculiar?
- A construção dos personagens é bem feita?
- O que você aprendeu ou achou mais interessante no livro?
- O que não lhe agradou?
- Essa leitura lembrou outros livros?
- Você faria uma releitura deste livro?
Então, por aqui eu peguei cada leitura e fiz tipo aquela ficha de leitura que a gente fazia no colégio, sabe? É mesmo uma pena que muita coisa que a gente faz no colégio só vem fazer sentido muito tempo depois, como debater sobre um determinado tema (eu mesma era muito tímida e odiava os momentos de bate-papo na escola).
Ficha de leitura
Você vai ver que depois de fazer isso, dá uma sensação de paz. É como se você fizesse download da mente sobre as impressões e sentimentos que aquela leitura lhe trouxe. A cabeça fica como uma “folha em branco” para receber outra leitura.
Agora é importante fazer as anotações em um lugar que não vá se perder. De um jeito que você tenha a segurança de que quando quiser relembrar, vai saber onde consultar e reviver um pouco a leitura.
Eu costumo criar arquivos em doc no Google Drive pra isso. Tenho uma pasta chamada “Ficha de leitura” porque faço essa associação imediata. Mas você pode ter um caderno só para isso ou pode salvar esses tópicos no seu computador. Pode também usar aplicativos de nota no celular, como o Google Keep.
Tem gente que anota no próprio livro, mas pra mim só isso não funciona (embora eu anote também). Como é um espaço bem limitado, eu acabo deixando impressões muito resumidas, o que dificilmente dá conta do que tenho para dizer sobre a narrativa.
Leitura superficial x Leitura profunda
Uma das coisas que me despertou para a importância da “ficha de leitura” foi a pesquisa da neurocientista Maryanne Wolf, sobre a qual li nesta matéria da BBC.
Segundo ela, quando aprendemos a ler, o nosso cérebro se transforma, é criado um circuito que conecta regiões visuais, da linguagem, de pensamento e emoção. Mas há uma diferença entre Leitura superficial x Leitura profunda.
A “leitura superficial” é essa que fazemos diariamente, o tempo todo, nas notificações e no Whatsapp. Estamos lendo mais do que nunca, em média 100 mil palavras por dia no celular. Mas é obtenção de informação, não processamos. Não dá tempo de raciocinar sobre.
Já a “leitura profunda” acontece quando “fazemos analogias e inferências, o que nos permite sermos humanos verdadeiramente críticos, analíticos e empáticos.” Quando pensamos sobre a leitura, usamos inclusive áreas diferentes do cérebro, como o córtex cerebral.
Que achou desta pesquisa? Comente aqui neste post no Instagram.
Comprovando na prática
Vale dizer que tive uma comprovação bem prática do que diz essa pesquisa. Li o livro de teoria literária Best Seller: literatura de mercado, de Muniz Sodré. Percebi que ao finalizar, tinha apreendido uns 40% dele.
Mas quando repassei capítulo a capítulo fazendo anotações escritas sobre o que tinha achado mais interessante, sinto que atingi uns 90% de aprendizado sobre a leitura. Foi bem impactante me dar conta disso.
E você costuma processar as suas leituras?
>>> Recomendo demais ler a matéria completa sobre a pesquisa da neurocientista na BBC: https://www.bbc.com/portuguese/geral-59121175
3 comentários
Ah Márcia… queria tanto fazer essas anotações!
Em janeiro eu li 4 livros, estava de férias também, isso ajudou bastante hehehe e li coisas interessantes, ano passado também… porém não anotei, quer dizer, uma frase ou outra acabei postando, e eu grifo bastante coisa. Tenho vontade de criar essa ficha de leitura com alguns títulos que li, apesar de ter colocado algumas coisas em prática, seria legal poder consultar algumas dessas anotações de tempos em tempos… quem sabe eu pegue pra ler novamente? confesso a preguicinha hehehehe
sobre a escola, esses dias estava lembrando dos resumos que fazíamos após ler um livro indicado pela professora, não lembro dessa ficha, mas lembro de sempre escrever resumos do que tinha lido, o que tinha entendido sobre e ficava com raiva dos alunos que pegavam o resumo na internet ou no final do livro hahahahaha
Beijãozão :*