As bibliotecas vão acabar depois da pandemia?
Por Márcia Lira em
Tem gente dizendo que as bibliotecas como conhecemos vão acabar, assim como as livrarias e sebos nesse pós-pandemia. E só de ouvir a ideia no ar, eu me arrepiei.
É que são tantas incertezas de como vai estar o mundo daqui a dois anos, de como vamos estar eu e você daqui a cinco anos, que todo tipo de previsão parece poder ser a certa.
Mas nessa eu não acredito.
É lógico que pelo menos por um tempo, as bibliotecas não vão poder funcionar como antes (e sigo aqui falando mais delas por não terem o aspecto comercial). E podemos prever algumas coisas que são fato agora.
Quando conseguirmos sair do isolamento social – aos poucos, como quem bota o dedinho no pé da água do mar para ver se tá fria -, todo tipo de atividade vai sofrer adaptações.
Por enquanto, não vai ser como antes
Nas bibliotecas, a primeira coisa é o acesso. Agora vai ser preciso controlar o número de pessoas que entram no espaço, para não ter aglomeração.
Os leitores, até segunda ordem, vão precisar estar de máscara, manter distância uma da outra, e talvez passar por uma verificação de temperatura.
Mas a maior perda nesse pós-pandemia é a mudança na manipulação dos livros. Várias pessoas de núcleos diferentes pegam nas obras, então agora elas se tornam objetos que podem disseminar a doença.
Então chegar numa biblioteca, passar da estante de literatura nacional a de autores estrangeiros, de prateleira em prateleira, passando o dedo nas lombadas, pegando, abrindo, folheando (ah, que saudades!).
E até cheirando, que era o meu caso, não vai poder ser assim por um tempo. Imagina, meter a cara pra cheirar um livro e levar pra casa o Coronavírus.
Talvez vá precisar ter uma bibliotecária ou bibliotecário que pegue o livro solicitado pelo visitante, e o entregue depois de passar álcool em gel na mão da pessoa.
E antes de devolver o livro, precisaria higienizar de novo o papel. Como se higieniza papel?
Outra possibilidade é que usemos aquelas luvas de plástico para pegar nos livros. Mas ainda teria a possibilidade de gotículas de salivas caírem nele.
Vamos precisar apoiar as bibliotecas
São questões que vamos precisar pensar em breve para todo tipo de atividade pública, que tenha ferramentas compartilhadas: parquinho da praça, academia no parque. E com as bibliotecas não é diferente.
O problema é que sabemos que os recursos para estes espaços públicos – os mais importantes pelo acesso de todos – são mínimos, muitas vezes são mantidos por amor à causa. E com o atual Governo a situação só piora.
Vão ser necessários recursos extra para que as bibliotecas funcionem com os novos procedimentos. Mais gente trabalhando. Ou seja, as bibliotecas vão precisar de nós, leitores.
As bibliotecas têm resistido a incêndios, governos ditatoriais, era digital. A pandemia não vai acabar com elas. Assim espero. <3
Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco
E eu que trabalho perto da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco? No ano passado, até janeiro deste ano, em vários momentos ia para a parada de ônibus que fica na frente dela.
Sempre pensando em ‘tirar um dia’ para ir lá. Reconhecer. Tirar fotos, quem sabe até fazer um vídeo para mostrar as leituras à disposição lá e estimular a frequência. Passar pelo menos 1h lendo lá.
Procrastinei, procrastinei e acabei sem fazer isso. Espero que possa fazer esse reparo em breve.
Amei a foto acima, da Carine Silva, tirada nesta biblioteca bem do jeitinho que a gente gosta: à vontade e esbaldada diante de tantas opções. Depois também tem a de Mari Cauduro, essa cena familiar das estantes cheias.
Com essas reflexões, quis chamar a atenção para que a gente comece a pensar juntos.
Porque é preciso que fiquemos atentos, alertas e dispostos a contribuir como for possível. É o começo para ajudarmos os gestores das bibliotecas nesta adaptação. E vamos conseguir.
Qual a primeira biblioteca que lhe vem à cabeça neste momento? Conte nos comentários o que acha dessa situação.
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