A quase proibição de Guimarães Rosa nas escolas
Por Márcia Lira em
Imagine um país onde as escolas são proibidas de adotarem autores como Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Mário de Andrade, Oswald de Andrade ou Gregório de Matos, só para começar. Parece argumento de uma nova ficção científica brasileira, mas esteve a caminho de acontecer. O deputado estadual Bruno Siqueira (PMDB), de Minas Gerais, teve a brilhante ideia de criar o projeto de lei com o “objetivo de defender a língua portuguesa culta”, que seria votado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Leia a parte inicial da proposta:
“Fica proibida a adoção e distribuição, na rede de ensino pública e privada do estado de Minas Gerais, de qualquer livro didático, paradidático ou literário com conteúdo contrário à norma culta da língua portuguesa ou que viole de alguma forma o ensino correto da gramática. O disposto no ‘caput’ também se aplica quando o conteúdo apresentar elevado teor sexual, com descrições de atos obscenos, erotismo e referências a incestos ou apologias e incentivos diretos ou indiretos à prática de atos criminosos”.
Com a polêmica gerada pelo projeto, o deputado chegou a alterar o texto, abordando apenas o descarte de livros que ferissem a norma culta. O que ainda assim é absurdo. A boa notícia é que um abaixo assinado que circulou pela internet, recolhendo mais de sete mil assinaturas em dois dias, conseguiu fazer o deputado ter o ato digno de retirar a proposta.
Ufa!
O fato é que as escolas brasileiras devem ter a capacidade de ensinar a língua portuguesa culta aos estudantes para que eles consigam identificar as diferenças entre o uso formal e o coloquial. Crianças, adolescentes, jovens precisam aprender que são duas formas de comunicação válidas, cada uma com suas características. Se eles não estão aprendendo isso nas escolas, o problema é outro. E nós sabemos que o problema é outro.
O que não pode é que, num período tão fértil do aprendizado, nossos estudantes sejam vetados de ter contato com tão rico patrimônio literário brasileiro. O próximo passo seria proibir as pessoas de falarem português coloquial? Não faz sentido nenhum. Quanto ao teor sexual e etc., acredito que seja saudável uma discussão sobre em que faixa etária deve ocorrer o incentivo à leitura de certas obras, mas nunca eliminá-las do currículo escolar.
Olha a cara de Guimarães Rosa (na foto) achando a ideia ridícula.
O que você acha? Concorda? Discorda?
Dicas de Keila e Kleber.
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 14 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
Reprimir a Tv ninguém quer. Quero ver o conteúdo com apelo sexual e linguagem de baixo nível extinto da programação da tv aberta.
Revoltante o retrocesso!!! Na idade em que mais se precisa de incentivo literário e onde praticamente se desenvolve a identidade de leitor vem um ignorante descabido e faz uma proposta ridícula dessas. Chega a ser engraçado, no mal sentido, é claro. Além de privar os estudantes da riqueza das obras, seria ignorar toda a história linguística nacional. E quanto a teor sexual, por favor, essas crianças vivem assistindo obscenidades na TV todos os dias e de forma nem um pouco poética, sem falar na internet. Desabafei hahahahahaha!