Sobre desacelerar à beira-mar
Por Márcia Lira em
Era tão acelerada que eu estava e nem tinha noção. A quantidade de trabalho e demandas dos outros, prazos e cobranças com que lidei nos últimos meses cobrou seu preço. Estava difícil fazer qualquer coisa. Desacelerar. Quem aguenta tanta mensagem no Whatsapp? Parar para ler um livro por dez minutos estava se tornando uma missão complicada.
Mas é incrível como alguns dias junto ao mar operam um milagre. Por dentro.
Quatro dias no litoral de Alagoas, em Japaratinga, mesmo com pouco sol na pele. Mesmo com temperaturas abaixo de 25 graus. Mesmo com banho na água do mar fria em meio às chuvas juninas. Diferente das tradicionais águas mornas e cristalinas do meu Nordeste.
Mas mesmo assim estar junto à natureza. Não um pedaço de natureza. A natureza do tamanho do mar. A natureza maior que tudo. Perto do oceano. Calma e paciente. Mas também forte, imponente, implacável.
Quando a maré está alta no Pontal de Japaratinga, as ondas machucam as pedras montadas para dar limite a elas nas pousadas à beira-mar. Do meu quarto com vista para o mar, tive medo de dormir e acordar numa praia alagada.
Pensei em Moby Dick, do Herman Melville. Queria viver uma aventura como a do capitão Ahab, longe da terra firme, mas entre um céu azul e um mar cristalino. Esqueci como o mar podia ser sombrio e temível em meio a uma tempestade. Oceano e céu quase da mesma cor, um horizonte todo cinza. Já pensou estar num navio ali no meio agora? Deuzulivre. Não sei se tenho coragem.
Tudo que a gente ama tem seu lado negativo. O mar é maravilhoso. Mas exige muito respeito. Acho que tanto mistério em torno dele é porque ele é tão imenso que não tem como o ser humano dizer que ele foi feito pra gente. O mar não é sobre o ser humano.
Mas tem poderes sobre. O ir e vir das ondas, o ritmo constante, palpável, regula do jeito certo o tempo de dentro da gente.
Voltei e não me sinto mais tão ansiosa. Tá mais fácil acordar e não olhar o celular. Tá mais fácil sentar pra ler um livro e simplesmente ler. Sem lutar para parar de pensar em tudo que eu não estou fazendo. Agora consigo olhar e ver. Estou aqui. Estou presente.
Se você se sente ansiosa, acelerada, se não consegue ler um livro, se não consegue se concentrar em nada. Talvez você precise se uns dias junto ao mar, pra regular o seu ritmo por dentro. Ganhar harmonia. Acalmar os olhos. Os ouvidos. O coração.
Quando você chega junto, o celular não tem mais tanta graça. Só pra os registros. Jogar conversa fora fica mais atraente. Elucubrar sobre as coisas da vida, os acontecimentos do mundo. Olhar nos olhos, bem fundo. Encher e esvaziar copos. Jogar offline. Foi incrível. Recomendo.
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