[Resenha] Eu não achei que podia gostar de Como eu era antes de você
Por Márcia Lira em
Confesso que estava tão preconceituosa pra ler esse livro, que só faltava segurar o Kindle só com dois dedos da mão. A história romântica do momento. O livro com capa do sucesso do cinema, Como eu era antes de você, da Jojo Moyes.
E agora tenho que admitir: não é que valeu a pena?
Enfrentei as ressalvas graças ao projeto de blogagem coletiva que inauguramos com essa leitura, o #Blogselivros. Somos 8 blogueiras mulheres lendo e resenhando o mesmo livro no mês. Ao final do post, você tem os links para as outras resenhas.
Comecei a ler esperando uma história melosa sobre como o amor transpõe barreiras. E encontrei algo inspirador sobre o poder que um relacionamento tem de transformar as pessoas para melhor. Independente das diferenças sociais e financeiras, e de quaisquer condições físicas.
O príncipe e a plebeia
Na verdade, esse contraste meio A Bela e Fera (associação que vi aqui) é uma das coisas que dão emoção à história, e faz a gente querer saber o que vai acontecer. A mocinha que dobra o cara durão. O príncipe e a plebeia. O cara erudito que ganhou o mundo aos 30, e a mulher inocente que nunca saiu do interior da Inglaterra.
Ser atirada para dentro de uma vida totalmente diferente — ou, pelo menos, jogada com tanta força na vida de outra pessoa a ponto de parecer bater com a cara na janela dela — obriga a repensar sua ideia a respeito de quem você é. Ou sobre como os outros o veem.”
Só que com o peso de acompanhar os percalços de um tetraplégico, um pouco de Intocáveis (esse filme francês incrível que tem na Netflix): a rotina de alimentação na boca, limpeza e exercícios do corpo sem movimento, troca de equipamentos, lista de remédios. Uma sequência de frutrações para as coisas mais simples.
Afinal, Will Traynor era um jovem-executivo-em-carreira-promissora em Nova York, CEO de uma multinacional e fã de turismo de aventura, até sofrer um acidente que prendeu seu corpo a uma cadeira de rodas dois anos antes.
Por outro lado, Louisa Clarke é uma jovem de 26 anos, que se veste de forma peculiar e precisa sustentar a família (pais, e uma irmã com um filho pequeno). É uma Pollyana moça contratada para ser a cuidadora de Will.
Na verdade, tem um fator X que dá um peso ainda maior na história. Mas esse spoiler não vale a pena fazer pra você.
O legal é que Louisa, narradora na maior parte do livro, é um personagem bem verossímil. Gente como a gente. Do tipo que tem uma família cheia de problemas, um trauma de adolescência, e só um vestido chique no guarda-roupa. Tem coisa mais irritante do que um personagem sem dinheiro pra viver que aparece com roupas pra toda ocasião e tem sempre uma conta corrente pra viajar?
Faltou sutileza
Agora me incomodou bastante no livro a falta de sutileza na escrita de Jojo Moyes. Literatura, literatura mesmo de verdade, é quando o escritor mostra o caminho pra você entender os personagens e a situação, mas omite outras tantas informações.
Essa omissão é importante pois fica o espaço pra o leitor preencher a lacuna com as suas impressões e sua visão das coisas. Enriquece a experiência da leitura. Em Como eu era antes de você, está tudo dito e escancarado.
Sabe aquele livro sobre o qual você PRECISA conversar com alguém quando acaba, pois fatalmente a pessoa absorveu o significado de um jeito completamente diferente do seu? Não, não é esse.
Mas tudo bem, vale muito a pena ler. A evolução da história é muito boa, e a leitura flui. Você fica apegado aos personagens, querendo saber como vai ser amanhã. Se Louisa vai conseguir animá-lo. Se eles vão viver de alguma forma o amor que sentem.
Música escrita
Destaque especial pra essa passagem sobre o primeiro concerto de música clássica de Louisa, que me fez ter vontade de assistir a algo assim qualquer dia desses:
O maestro parou, deu dois toques na tribuna com a batuta e fez-se silêncio absoluto. Todos pararam e a plateia ficou atenta, à espera. Ele então baixou a batuta e de repente a sala foi tomada pelo som. Senti a música como se fosse algo físico que não entrava só pelos meus ouvidos, mas fluía dentro de mim, me cercava, fazia meus sentidos vibrarem. Estava toda arrepiada e minhas mãos ficaram úmidas. Will não tinha falado que era assim. Pensei que fosse ficar entediada. Mas aquela era a coisa mais linda que eu já tinha ouvido. E ainda fazia a minha imaginação percorrer caminhos inesperados; sentada ali, pensei em coisas que não passavam mais pela minha cabeça havia anos, fui invadida por velhas emoções; novas ideias e pensamentos surgiam como se minha percepção se ampliasse. Era quase excessivo, mas eu não queria que parasse.”
Estou tão acostumada a ler clássicos ou livros com mais de 20 anos de escritos, que gostei de encarar uma leitura contemporânea em que os personagens também mandam mensagens em vez de telefonar.
O próximo passo é obviamente me render 100% e assistir ao filme, afinal é até difícil vislumbrar os rostos dos personagens principais sem pensar nos atores Emilia Clarke e Sam Claflin. (assista ao trailler).
Veja o que as integrantes do #BlogseLivros têm a dizer sobre o livro
Chat-Feminino – http://chat-feminino.com
Desejo do Dia – http://www.desejododia.com.br/2016/08/como-eu-era-antes-de-voce-resenha.html
Dona Bispa – http://www.donabispa.com/2016/08/dica-de-leitura-como-eu-era-antes-de.html
Mundo da Helen – https://mundodahelen.com/2016/08/26/livro-como-eu-era-antes-de-voce-jojo-moyes
Nerdivinas – https://nerdice.com/nerdivinas/biblioteca-nerd-como-eu-era-antes-de-voce-de-jojo-moyes
Oxente Menina – http://www.oxentemenina.com/2016/08/como-eu-era-antes-de-voce
Vaidade Pega – http://www.vaidadepega.com.br/2016/08/como-eu-era-antes-de-voce-resenha.html
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Como eu era antes de você, Jojo Moyes
Nota: 3/5
Editora: Intrínseca, 2012.
Páginas: 320
ISBN: 978-85-8057-326-8
3 comentários
AUTOR
Márcia Lira
Márcia Lira. Jornalista. Social Media. Especialização em Jornalismo Cultural. Fundadora do Menos1naestante há 14 anos. E-mail: marcialira@gmail.com.
hahaha, né? A gente às vezes fica tentando recuperar os clássicos e não vê o que a galera da nossa época tá dizendo. É bem interessante, deu instiga. 🙂
Compartilho da mesma opinião que a sua amada
Perfeita sua resenha
Beijos
Eu gostei muito do livro. Não do filme. Chorei durante a leitura e tem uma passagem dele que muitas pessoas que leram na primeira vez não perceberam, que foi o que aconteceu com Louisa na adolescência. Muito triste, por isso que ela se escondia do mundo, ficando onde estava, sem enxergar que poderia ser mais. Agora o Will me prendeu por completo, lia para saber dele, imaginava o quão dolorido era para ele ver a vida e vivê-la tão pouco e de uma maneira que ninguém quer. Esse livro me doeu por dentro. Fiz uma pós alguns anos atrás que incluía a disciplina: "A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho", tornei-me mais sensível a esse tema, quando comecei a ler o livro e vi do que se tratava a entrega na leitura foi total, por isso que eu tive a maior ressaca literária com este livro, não consegui ler mais nada durante um bom tempo.
gostei da resenha e mais ainda dessa parte: "Estou tão acostumada a ler clássicos ou livros com mais de 20 anos de escritos, que gostei de encarar uma leitura contemporânea em que os personagens também mandam mensagens em vez de telefonar." [ri muito pq me identifiquei com as leituras…haha 😛 ]