Um tempo para a leitura
Por Márcia Lira em
Duas confissões: eu não conhecia o caderno do Estadão chamado Sabático. Nem sabia o que era sabático. Para quem também desconhece o termo: é um período de pausa nas atividades regulares para se dedicar a um projeto pessoal, bem explicado nesta matéria. Então eu me deparei com esse caderno cultural cujo slogan é: Um tempo para a leitura. E essa frase me chamou a atenção mais do que a publicação em si.
Eu tenho uma relação louca com o tempo. Eu me atraso; eu quero fazer mais do que os 60 minutos deixam; eu ainda me frustro constantemente por causa disso. Mas ele continua a passar, e a gente que cuide de fazer boas escolhas e a conviver com elas dentro dos limites dele. Para um jornalista, leia-se profissional-que-deve-saber-de-tudo (um tudo sem limites, já que eles foram quebrados pela internet), essas decisões são ainda mais angustiantes. Quando a gente coloca leitura no meio, então…
Ler realmente pede uma pausa. Lembro de um professor frisar aquele exato momento em que você está lendo um livro e algo nele lhe faz levantar a cabeça. Tem que ter tempo para refletir. Não é como clicar, curtir, retwittar. E esquecer depois.
Com esse ritmo de pé-no-acelererador da vida contemporânea, no entanto, o livro em papel vem perdendo espaço enquanto o e-book parece se encaixar perfeitamente – e digo isso sem julgar positivo. E eu me surpreendo de como é um sentimento coletivo essa dificuldade de priorizar a leitura. Kevin Kelly, um dos fundadores da Wired, ressalta o espírito contemplativo que o livro pede (vi neste post):
“(…) Os livros eram bons para desenvolver um espírito contemplativo. Telas incentivam um pensamento mais utilitarista. Uma nova ideia ou fato estranho provoca um reflexo de fazer alguma coisa: pesquisar o termo, consultar ‘amigos’ da tela sobre suas opiniões, encontrar pontos de vista alternativos, criar um marcador, interagir ou twitar a coisa ao invés de simplesmente contemplá-la. A leitura de livros fortaleceu nossas habilidades analíticas, incentivando-nos a seguir uma observação até a nota de rodapé. A leitura de tela incentiva a rápida identificação de padrões, a associação desta ideia com aquela, equipando-nos a lidar com os milhares de novos pensamentos expressados todos os dias. A tela incentiva e nutre o pensar em tempo real. Resenhamos um filme enquanto o assistimos, desenterramos um fato obscuro no meio de uma discussão e podemos ler o manual de instruções de um gadget que espiamos em uma loja antes de comprá-lo em vez de esperar até chegar em casa para descobrir que ele não faz o que precisamos que faça.”
Para se ter ideia, as vendas de e-books aumentaram 193% só nos Estados Unidos em um ano. A sensação é de que é preciso reaprender a lidar com o livro físico. E aí surgem coisas divertidas para mostrar isso como o How to read a book – For dummies acima, pinçado do blog CadeDigital ou teorias estranhas como essa da leitura seletiva, que considera que há livros que não precisam ser lidos do começo ao fim. Esquisito.
Foto de NuagedeNuit.
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